domingo, 9 de junho de 2013

ARGÉLIA - ANÁLISE








A Argélia é um país localizado no norte da África, com população de aproximadamente 37 milhões de habitantes. Tornou-se independente da França em 1962 e participou dos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 1964, em Tóquio, Japão, na edição de verão. Desde então esteve ausente apenas em 1976, quando apoiou o boicote dos países da África negra aos Jogos de Montreal, no Canadá, em protesto contra a participação da Nova Zelândia, que havia realizado jogos de Rugby com a segregacionista África do Sul. Nos Jogos de Inverno, iniciou sua participação em 1992, mas esteve ausente de 1994 a 2002, retornando aos mesmos em 2006. Embora tenha participado dos Jogos Olímpicos desde sua independência, a Argélia demorou muito tempo para conquistar suas primeiras medalhas. De 1964 a 1980, o país não conseguiu chegar ao pódio em nenhuma ocasião. Em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, EUA, a Argélia finalmente conquistou suas primeiras medalhas, favorecidíssima pelo boicote dos países do Bloco Socialista. As medalhas, duas de bronze, foram obtidas no desfalcado torneio de Boxe, que não contou com potências como Cuba, União Soviética, Alemanha Oriental e Bulgária, além de outros países que também certamente chegariam ao pódio. Os pugilistas que colocaram a Argélia pela primeira vez na história em um pódio olímpico foram Mohamed Zaoui, na categoria até 75 kg, e Mustapha Moussa, na divisão até 81 kg. Zaoui derrotou T.Monne, de Lesotom por nocaute técnico nas oitavas-de-finais, depois passou por M.Mwaba, de Zâmbia, por pontos (4-1) nas quartas-de-finais, garantindo a medalha de bronze, confirmada após perder para o norte-americano Virgil Hill nas semifinais por 0-5.  Moussa, por sua vez, derrotou D. thadzi, do Malawi, por pontos (5-0) nas oitavas-de-finais, depois passou pelo britânico A. Wilson nas quartas-de-finais, por pontos (5-0), após o resultado do combate ter sido modificado, já que havia perdido por 2-3. Assim, Moussa garantiu a medalha de bronze, confirmada depois de sofrer uma derrota por 0-5 para o iugoslavo Anton Josipovic na semifinal. Zaoui e Moussa foram os primeiros medalhistas da história olímpica da Argélia. Em 1988, em Seul, Coreia do Sul, sem um grande boicote, a Argélia não conseguiu chegar ao pódio. Porém, em 1992, em Barcelona, Espanha, a Argélia finalmente conquistou suas medalhas sem a dependência de causas externas, como o boicote de 1984. O país obteve 2 medalhas, uma de ouro, no Atletismo feminino, e uma de bronze, no Boxe. Hassiba Boulmerka venceu a prova feminina de 1500m no Atletismo com a fantástica marca de 3:55.30 min, derrotando a soviética Lyudmila Rogatchova por 1.61s. Boulmerka simplesmente revolucionou o esporte de seu país muçulmano, que não incentivava a participação de mulheres no esporte. Ela teve que correr com calção largo e comprido. Sua vitória iniciou uma forte tradição da Argélia nas provas de 1.500m, tanto na masculina quanto na feminina. Boulmerka tornou-se a primeira pessoa campeã olímpica defendendo a representação da Argélia. A outra medalha argelina foi conquistada pelo pugilista Hocine Soltani, terceiro colocado na categoria peso pena, até 57 kg. Soltani derrotou o argentino Jorge Maglione, por nocaute técnico, no primeiro assalto da primeira fase. Nas oitavas-de-finais, bateu o porto-riquenho Carlos Gerena por 23-0. Nas quartas-de-finais, garantiu a medalha de bronze ao superar o dominicano Victoriano Damian por pontos (13-4). Na semifinal, acabou derrotado pelo alemão Andreas Tews por 11-1, limitando-se à medalha de bronze. Em 1996, em Atlanta, EUA, a Argélia novamente melhorou seu desempenho olímpico ao conquistar 3 medalhas, 2 de ouro e 1 de bronze. O Atletismo foi responsável por uma medalha de ouro enquanto o Boxe respondeu pela outra medalha de ouro e por uma de bronze. No Atletismo, Noureddine Morceli venceu de forma brilhante a prova masculina de 1500m com a marca de 3:35.78 min, superando o espanhol Fermin Cacho, campeão olímpico em 1992, por 0.62s. Morceli deu continuidade ao sucesso iniciado pela compatriota Hassiba Boulmerka, campeã em 1992, na prova de 1.500m. No Boxe, a Argélia retornou ao país em que obteve suas primeiras medalhas. Mas desta vez não precisou da ajuda de qualquer boicote para novamente obter 2 medalhas, uma de ouro e uma de bronze. A medalha de ouro foi conquistada por Hocine Soultani, na categoria até 60 kg. Soltani superou o turco Issever (14-2) na primeira rodada, o brasileiro Agnaldo Nunes (11-1) nas oitavas-de-finais e garantiu ao menos a medalha de bronze ao derrotar o sul-coreano Eun-Chui Shin (16-10) nas quartas-de-finais. Na semifinal, bateu o romeno Leonard Doroftei por 9-6, garantindo presença na grande final, onde encarou um duríssimo combate contra o búlgaro Tontcho Tontchev, que foi decidido a seu favor pela arbitragem após um empate em 3-3. Assim, Soltani tornou-se o primeiro campeão olímpico da Argélia no Boxe. A medalha de bronze foi conquistada por Mohamed Bahari, na categoria até 75 kg. Bahari derrotou M.Thomas, de Barbados, por nocaute técnico no segundo assalto na primeira rodada. Nas oitavas-de-finais, passou pelo georgiano Akaki Kakauridze por pontos (8-5). Nas quartas-de-finais, derrotou o irlandês Brian Magee, também por pontos (15-9) e garantiu ao menos a medalha de bronze, confirmada após perder a semifinal para o turco Malik Beyleroglu na decisão dos jurados, após um empate em 11-11. Na década de 90 do século passado, portanto, a Argélia já havia apresentado uma grande evolução e conquistado nada menos do que 5 medalhas. Em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, a Argélia regsitrou sua melhor participação olímpica ao conquistar um total de 5 medalhas, embora apenas uma de ouro. O Atletismo foi responsável por nada menos do que 4 delas, inclusive a de ouro, enquanto o Boxe somou a outra de bronze. No Atletismo a medalha de ouro foi conquistada na prova feminina de 1.500m, vencida por Nouria Mérah-Benida em 4:05.10 min, numa chegada arrebatadora. A medalhista de prata, a romena Violeta Szekely, chegou apenas 0.05s atrás. Mérah-Benida repetiu o feito de Hassiba Boulmerka, campeã em 1992. Já os homens argelinos foram responsáveis pelas outras 3 medalhas. Djabir Saïd-Guerni ficou em terceiro lugar na prova de 800m, com a marca de 1:45.16 min, perdendo para o campeão Nils Schumann, da Alemanha, por apenas 0.08s. Na prova de 5.000m, Ali Saïdi-Sief conquistou a medalha de prata com a fraca marca de 13:36.20 min, ficando atrás apenas do etíope Million Wolde, 0.71s mais rápido. Nas provas de campo, Abderrahmane Hammad causou surpresa ao ficar com a medalha de bronze na prova de salto em altura, com a boa marca de 2.32m. Hammad foi um dos 6 competidores que terminaram com a mesma marca, mas em virtude do número de tentativas ficou à frente de outros 4, dentre eles o sueco Stefan Holm, futuro campeão em 2004, mas atrás do cubano Javier Sotomayor. No Boxe, Mohamed Allalou obteve a medalha de bronze na divisão até 63.5 kg. Na primeira rodada, derrotou o tcheco Konecný por pontos (17-9). Nas oitavas-de-finais, superou o ganês Ben Neequaye também por pontos (15-6). Nas quartas-de-finais, arrasou o italiano Sven Paris (22-8), garantindo a medalha de bronze. Allalou não conseguiu seguir adiante e perdeu a semifinal por nocaute técnico para o uzbeque Mahammatkodir Abdullaev, o futuro campeão olímpico. Após uma boa evolução olímpica de 1992 a 2000, a Argélia sofreu um grande retrocesso nas edições seguintes. Em 2004, em Atenas, Grécia, não conseguiu chegar ao pódio em nenhuma modalidade esportiva. Em 2008, em Beijing, China, obteve 2 medalhas, uma de prata e uma de bronze, porém não foi nas modalidades de costume, como Boxe e Atletismo, mas sim no Judô. A medalha de prata foi conquistada no torneio masculino por Amar Benikhlef na categoria até 90kg. Benikhlef derrotou Alexis Chiclana, de Porto Rico, na primeira rodada, o espanhol David Alarza, nas oitavas-de-finais, o suíço Sergei Aschwanden, nas quartas-de-finais, e o francês Yves-Matthieu Dafreville na semifinal. Na final, acabou derrotado pelo georgiano Irakli Tsirekidze. Já a medalha de bronze foi conquistada por Soraya Haddad, na categoria feminina até 52 kg. Haddad derrotou Marie Muller, de Luxemburgo, na primeira rodada, Hortense Diedhiou, do Senegal, nas oitavas-de-finais, e a sul-coreana Kim Kyungok nas quartas-de-finais. Na semifinal, acabou derrotada pela chinesa Xian Dongmei, a futura campeã. Na disputa pela medalha de bronze, Haddad superou a cazaque Sholpan Kaliyeva. Haddad e Benikhlef ampliaram as possibilidades de pódio da Argélia, antes limitada ao Boxe e ao Atletismo. Em 2012, nos Jogos Olímpicos de Londres, a Argélia voltou a conquistar a medalha de ouro olímpica. O feito coube a Taoufik Makhloufi na prova masculina de 1.500m no Atletismo. Makhloufi registrou a marca de 3:34.08 min, superando o norte-americano Leonel Manzano, prata, por 0,71s. A prova foi totalmente atípica, pois os favoritos quenianos Silas Kiplagat, Nixon Chepseba e Asbel Kiprop, candidatos ao domínio integral do pódio, não encontram seus rítmos e acabaram longe do pódio. Makhloufi repetiu o feito de Noureddine Morceli, campeão em 1996. Porém, a Argélia ficou limitada apenas à medalha de Makhloufi, ficando fora do pódio nas demais provas e modalidades. O país segue em evolução, mas precisa ampliar o leque de esportes em que obtém medalha. Contudo, não se pode ignorar o fato da Argélia ter evoluído significativamente a partir dos anos 90 do século passado. Além disso, é um país cuja participação feminina possui bastante relevância, haja vista as limitações impostas pelas sociedades muçulmanas às suas mulheres. É curioso notar como a prova de 1.500m se incorporou à identidade esportiva do país, estabelecendo, pelo menos em termos de resultados, uma inimaginável igualdade entre homens e mulheres.       


 










 


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