Os Jogos Olímpicos de 1984, os vigésimo terceiros da Olimpíada, foram sediados em Los Angeles , Estados Unidos. Apresentaram características próprias como: a solitária concorrência da cidade para sediá-los; o compromisso da cidade em não gastar dinheiro público e o conseqüente financiamento privado, que seria modelo nas edições posteriores; o boicote dos países do Bloco Socialista, liderados pela URSS; o retorno da China e a presença das socialistas Romênia e Iugoslávia; a maior participação feminina, estreando em alguns esportes e competindo em mais provas em outros; o chauvinismo dos norte-americanos incentivado pela tendenciosa transmissão televisiva; as irregularidades de arbitragem no Boxe e de julgamento na Ginástica; o enorme sucesso financeiro dos Jogos; a grande festa norte-americana.
A escolha da cidade de Los Angeles para abrigar os Jogos de 1984 acabou sendo a única opção do Comitê Olímpico Internacional, diante da ausência de outras candidatas. Na época o Movimento Olímpico estava passando por uma grave crise. As edições de 1972, duramente atingida pelo terrorismo, e de 1976, financeiramente um fracasso, intimidaram possíveis candidatas para os Jogos Olímpicos de 1984, que tiveram apenas duas concorrentes: a iraniana Teerã e a norte-americana Los Angeles. Porém, Teerã retirou-se da disputa em 1977, deixando o caminho livre para Los Angeles. Toomey e King (1988, p. 57) expõem: "(...) Seguindo a incidência do terrorismo em Munique (1972) e o prejuízo de 1 bilhão de dólares de Montreal (1976), a linha de potenciais anfitriões olímpicos repentinamente ficou muito curta. Em outubro de 1977, após Teerã se retirar, Los Angeles foi deixada como a única candidata desejando abrigar os Jogos de 1984".
A cidade de Los Angeles recebeu o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 1984 em outubro de 1978. Entretanto, o COI não recebeu as garantias da cidade pela responsabilidade financeira no custeio dos Jogos em virtude de um referendo, aprovado por 73.5% dos votantes, ter determinado que nenhum dinheiro público deveria ser gasto com os Jogos. Dessa forma, a edição de 1984 tornou-se a primeira a ser privativamente custeada e ainda se transformou na mais rentável da história até então (TOOMEY E KING, 1988). Varela (1988, p.130) informa que nem mesmo os governos do estado da Califórnia e o governo federal contribuíram com os Jogos e os serviços de segurança ainda foram cobrados: O prefeito de Los Angeles, Tom Bradley, manifestou ao COI em 1978, quando o COI teria que decidir em Atenas a sede para os Jogos Olímpicos de 1984, que aquela cidade não daria nenhum dólar para os Jogos, nem para adaptar a cidade afim de acolher aquele evento. O mesmo repetiram os governos da Califórnia e o federal de Washington. Nenhum dólar para os Jogos de Los Angeles. E o cumpriram, ao ponto dos organizadores terem que pagar inclusive a polícia e o exército americanos para garantir a segurança durante aqueles Jogos
Wallechinsky (2004) também informa que os Jogos Olímpicos de Los Angeles foram os primeiros a serem organizados sem financiamento governamental. O sucesso dos Jogos de Los Angeles foi um modesto orçamento, possível por causa da existência de diversas instalações, o que levou a um gasto de apenas 500 milhões de dólares, uma soma insignificante se comparada às dos Jogos anteriores, a partir de 1960. Somente duas novas instalações foram construídas: o velódromo, custeado pela Southland Corporation e a piscina olímpica no campus da Universidade da Califórnia do Sul, doada pelo McDonald's (TOOMEY E KING, 1988). Arnold (1983) também menciona que a existência das instalações esportivas contribuiu para que o Comitê Organizador gastasse muito pouco dinheiro.
Conforme Arnold (1983), três grandes fontes de recursos contribuíram com os Jogos: a venda de cotas de patrocínio, os direitos de televisão e as vendas de ingresso. As loterias não puderam ser utilizadas pois eram proibidas na Califórnia. Toomey e King (1988, p.58) confirmam a opinião de Arnold quanto às fontes de recursos e ainda enfatizam que elas acabaram gerando um significativo lucro: Com novas construções mantidas a um mínimo e com a televisão, o patrocínio de corporações e a revenda de ingressos atingindo alturas recordes, os Jogos de Los Angeles renderam um estonteante lucro de 227.7 milhões de dólares. O Comitê Organizador preferiu o termo "excedente" para enfatizar sua condição de não ter fim lucrativo.
Um acordo assinado em 1979, previa que 40% iriam para a Fundação Olímpica dos Estados Unidos, formada para ajudar o esporte olímpico, outros 40% permaneceriam na California do Sul para beneficiar o esporte para jovens através da criada Fundação Atlética Amadora e os restantes 20% para as federações esportivas nacionais.
Os Jogos Olímpicos de Los Angeles, assim como os de 1976 e de 1980, foram afetados pelo boicote, dessa vez dos países do Bloco Socialista, liderados pela União Soviética. Politicamente, o mundo passava por um delicado período. Vários fatores acabaram levando os soviéticos a boicotarem os Jogos, como o relacionamento tenso com os Estados Unidos, o temor de manifestações anti-soviéticas e um espírito de revanche. Inicialmente, a retaliação ao boicote liderado pelos Estados Unidos em 1980 seria um bom motivo para o boicote soviético pois os norte-americanos, na ocasião, retiraram do Kremlin a possibilidade de cultivar uma imagem de prestígio soviético e transmiti-la ao mundo. Desde 1980 as tensões entre os dois países cresceram. Em 1983, agravou-se depois que os soviéticos abateram um avião sul-coreano, o Korean Airlines Flight 007 em 01 de Setembro. Duas semanas depois, a Assembléia Legislativa da Califórnia aprovou uma resolução pedindo que o governo federal de Washington banisse a União Soviética de participar dos Jogos de Los Angeles. Ações deste tipo significariam uma agressão à Carta Olímpica, mas a situação foi salva quando o governo norte-americano afirmou que qualquer atleta ou oficial classificado para os Jogos seria admitido. A Assembléia reverteu sua posição, mas os efeitos do seu ato já haviam causado prejuízo. A complicação tornou-se maior quando os norte-americanos começaram a instalar mísseis Pershing pela Europa e os soviéticos se retiraram das conversações de Genebra sobre redução de armamentos. Outro fato que trabalhou contra a participação soviética foi a morte do Presidente da URSS, Yuri Andropov, na época dos Jogos de Inverno. Seu substituto foi Konstantin Tchernenko, que foi um dos principais aliados do antigo Presidente Leonid Brezhnev, que governou a URSS na época em que os Estados Unidos boicotaram os Jogos de Moscou (TOOMEY E KING, 1988).
Os soviéticos alegavam que não teriam segurança em Los Angeles em virtude da manifestação de grupos anti-soviéticos, que prometiam tumultuar a estadia da delegação soviética em território norte-americano. Toomey e King (1988, p.61) descrevem a situação: A preocupação sobre a segurança da delegação soviética era real. Um pequeno grupo de extrema direita, radicais anti-soviéticos conhecidos como "Coalizão para banir os soviéticos" recebeu grande quantidade de atenção da mídia, bem mais do que sua real influência merecia. O grupo prometeu provocar a histeria anti-soviética e ameaçou ajudar os atletas soviéticos a desertarem. Eles foram rapidamente adotados pelos soviéticos como um exemplo do tipo de recepção que sua delegação poderia esperar em Los Angeles. Peter Ueberroth tentou tranqüilizá-los de que o grupo não tinha reais adeptos e que os soviéticos seriam bem recebido.
O governo norte-americano, representado pelo Presidente Ronald Reagan e pelo Departamento de Estado, não demonstrou o menor interesse em influenciar os soviéticos a comparecerem aos Jogos. Na época, Reagan gozava de grande popularidade segundo as pesquisas de opinião pública, enquanto havia muitas opiniões negativas com respeito à política exterior dos soviéticos. Os incidentes diplomáticos entre URSS e EUA continuaram. Em Março de 1984, a administração recusou visto de entrada ao encarregado soviético Oleg Yermishkin, que iria cuidar dos planejamentos para a estadia dos soviéticos em Los Angeles. Não houve uma razão oficial para a recusa, mas provavelmente o fato de Yermishkin ser um agente da KGB, a polícia secreta da URSS, parece ter sido a razão determinante. Outros opinam no sentido de que ninguém melhor do que um agente para verificar as condições de segurança que esperavam pelos soviéticos. Este foi mais um motivo para o boicote (TOOMEY E KING, 1988).
Os soviéticos anunciaram seu boicote aos Jogos de 1984 no dia 8 de Maio, poucas horas depois da tocha olímpica ter iniciado sua jornada em solo norte-americano a partir de Nova Iorque. Como informam Toomey e King (1988), os soviéticos alegaram problemas de segurança para se ausentarem dos Jogos: "Sentimentos chauvinistas e uma histeria anti-soviética estão sendo incentivados nos Estados Unidos...as ações práticas pelo lado americano, entretanto, mostram que não pretendem assegurar a segurança de todos os atletas...Nestas condições, o Comitê Olímpico Nacional da URSS é compelido a declarar que a participação dos esportistas soviéticos nos Jogos é impossível".
Inicialmente, o Comitê Organizador ficou chocado e desapontado, mas depois cresceu um sentimento de que os Jogos deveriam ser um sucesso. Em parte, o fervor patriótico exibido nas arenas esportivas foi produto do boicote soviético e do sentimento público de que a festa deles não seria espoliada (TOOMEY E KING, 1988).
Toomey e King (1988) expõem a opinião de Ronald Reagan a respeito da ausência soviética: "Francamente, eu penso que eles não querem ficar embaraçados por terem venerados atletas de seu país virem para este país e decidirem ficar". Toomey e King (1988) também esclarecem que alguns sentiram que os soviéticos tinham sido empurrados para longe e receberam tão pouca garantia. Outros não sentiram pesares, pois os Estados Unidos prometiam dobrar seu esperado quadro de medalhas.
Toomey e King (1988, p.63) informam os países que aderiram ao boicote: Treze nações se uniram à União Soviética em seu boicote (Angola, Bulgária, Cuba, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Etiópia, Hungria, Laos, Mongólia, Coréia do Norte, Polônia, Iêmen do Sul e Vietnã). Tristemente, algumas destas nações têm a maioria do fino talento atlético do mundo. Foi uma grande derrota para todos que esperavam que as Olimpíadas de Los Angeles poderia contribuir um pouco na compreensão entre Leste e Oeste. Peter Ueberroth estava entre aqueles mais desapontados...
Ueberroth também liderou uma campanha para assegurar a presença de pequenos países que ainda não haviam confirmado presença, e ofereceu ajuda financeira a um número de nações africanas. A grande alegria veio quando a Romênia confirmou que compareceria aos Jogos, sendo o único país do Pacto de Varsóvia presente nos Jogos. Foi registrada a presença de um total de 139 países, ultrapassando o recorde estabelecido em Munique em 1972 (TOOMEY E KING, 1988). Fontes mais seguras, como Kaiser (2000) e Kluge (2000) informam que na realidade o número de nações participantes foi 140.
As mulheres continuaram ampliando sua participação nos Jogos Olímpicos. Ingressaram em novas modalidades esportivas e tiveram o número de provas aumentado em outras. No Atletismo , foram incluídas as provas de 3000 metros , Maratona, 400 metros com barreiras, enquanto a de heptatlo substituiu a de pentatlo. Pela primeira vez na história, competiram em provas exclusivas no Tiro ao alvo, cujo programa incluiu 3 provas. Também competiram pela primeira vez no Ciclismo, mas numa única prova, a individual de estrada. A Ginástica rítmica, individual, também ingressou no programa, o mesmo ocorrendo com o Nado Sincronizado, que reuniu duas provas. Na Canoagem, ganharam o direito de competir no caiaque quádruplo (KAISER, 2000). Um total de 11 provas femininas inéditas foram incluídas no programa dos Jogos Olímpicos. Além disso, a disputa de 200m, estilo medley, foi reintegrada ao programa da Natação. Wallechinsky (2004) lembra que o Nado Sincronizado foi incluído no programa depois que a União Soviética anunciou seu boicote aos Jogos.
Os Jogos Olímpicos de Los Angeles foram oficialmente inaugurados no dia 28 de Julho e encerrados em 12 de Agosto de 1984. Contaram com a participação de 6.797 atletas de 140 países, incluindo 1.567 mulheres, que competiram num total de 221 provas distribuídas dentre 25 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Foram registrados recordes no número de países e de mulheres participantes. Entretanto, o número total de participantes ainda ficou abaixo do estabelecido em 1972. O recorde do número de provas também foi expressivo, superando em 18 o total de Moscou, quatro anos antes, algo contraditório se considerarmos que já na década de 70 começavam-se as discussões a respeito do gigantismo dos Jogos.
Como anteriormente exposto, o boicote dos países do Bloco Socialista, liderado pela União Soviética, deixou 14 países fora dos Jogos. Entretanto, Kluge (2000) enumera outros países que também se ausentaram mas que passaram, de certa forma, despercebidos. Assim, conforme Kluge (2000), os ausentes dos Jogos Olímpicos de 1984 foram os seguintes: Afeganistão, Albânia, Angola, Bulgária, Cuba, Etiópia, Alemanha Oriental, Hungria, Irã, Laos, Líbia, Mongólia, Coréia do Norte, Polônia, União Soviética, Tchecoslováquia, Vietnã, Burkina Fasso, Iêmen do Sul. Entretanto, as presenças da Iugoslávia, da Romênia e da China foram muito comemoradas. Toomey e King (1988) ressaltam que a Romênia recebeu grande ovação no desfile de abertura e que a China retornava aos Jogos Olímpicos pela primeira vez desde 1932. Convém observar, como já exposto anteriormente no presente estudo, que os chineses haviam competido pela última vez em 1952. Toomey e King (1988) também mencionam o ingresso de novos países na família olímpica, como o Djubuti, a Costa do Marfim e o Butão.
O retorno da China ao Movimento Olímpico representou uma das grandes vitórias dos Jogos de 1984. Os chineses já haviam participado das edições de Inverno de 1980 e de 1984, mas boicotaram a edição de Verão de 1980, organizada em Moscou. A adesão chinesa simbolizou a conexão de uma população de mais de um bilhão de pessoas e jovens ao maior evento esportivo do mundo. A China iniciou em Los Angeles sua incrível jornada para se tornar uma das maiores potências esportivas do mundo, conquistando 32 medalhas, 15 de ouro. Assim foram lançadas as primeiras sementes do que hoje representa uma das três maiores potências olímpicas do planeta e que vislumbrará em Beijing, em 2008, a possibilidade de se tornar o primeiro país asiático a assumir o topo do quadro de medalhas.
A Cerimônia de Abertura dos Jogos foi uma grande festa, cujo brilho e inspiração dispersaram todo o pessimismo relacionado ao temor de um ataque terrorista, preocupações a respeito de fundos, congestionamentos e poluição (TOOMEY E KING, 1988). Os bons sentimentos entre os atletas fizeram com que deixassem a divisão por nações e se juntassem numa dança espontânea, tal como costuma ocorrer nas cerimônias de encerramento (WALLECHINSKY, 2004). Varela (1988) lembra que o Presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, em seu discurso inaugural, não se esqueceu dos que não puderam comparecer aos Jogos: “Meus pensamentos estão, nestes momentos de alegria e satisfação, com os atletas ausentes”. Varela (1988) ainda conclui que a cerimônia foi extraordinária, que expressou um intenso momento de fraternidade e alegria.
A ausência da União Soviética, da Alemanha Oriental e de vários outros países deixou o caminho aberto para um estrondoso sucesso norte-americano, que infelizmente acabou sendo expressado de forma chauvinista pela TV norte-americana. Toomey e King (1988) expressam a repercussão do domínio norte-americano: “O domínio das equipes norte-americanas na arena foi excelente para a venda de ingressos, para a audiência da TV e para a consciência própria da nação em necessidade de ânimo”. Os Estados Unidos conquistaram um total de 174 medalhas e dentre elas obtiveram 83 de ouro, superando as 80 conseguidas pela União Soviética quatro anos antes, embora tivessem competido em 18 provas a mais. Naturalmente, a TV norte-americana e seus anunciantes quiseram aproveitar ao máximo esse grande sucesso esportivo e sua audiência.
A rede de televisão ABC, em sua transmissão interna, tornou-se repetitiva ao enfatizar as conquistas norte-americanas, predominando o azul, o branco e o vermelho e o hino norte-americano “The Star Spangled Banner”. A razão para este exagero foi a predominância de espectadores da cidade. Além disso, os estrangeiros foram desencorajados a irem a Los Angeles por causa de alguns fatores, como os altos custos da viagem e da hospedagem, a dificuldade em se obter ingressos e a precoce ameaça aos Jogos representada pelo boicote. Uma das principais diversões do público acabou sendo o apoio dado aos norte-americanos, já que em muitas arenas predominou o grito de guerra “U-S-A! U-S-A! U-S-A!”, mas tudo com boa animação e sem comentários depreciativos sobre os adversários estrangeiros, porém levemente embaraçoso (TOOMEY E KING, 1988).
Toomey e King (1988, p.55) lembram que o COI se manifestou a respeito do exacerbado patriotismo norte-americano: "Durante a primeira semana de competição, o Presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, enviou uma mensagem a Televisão ABC através de uma carta ao comitê organizador, queixando-se sobre o foco eufórico nos atletas norte-americanos pela rede. Algum criticismo veio das Vilas Olímpicas onde os atletas e os treinadores, com tempo disponível entre os eventos, poderiam ser encontrados com os olhos colados aos monitores de vídeo. “Há uma ênfase exagerada de que são os Jogos da América, e o resto do mundo é convidado,” observou um marchador australiano. “Parece como foi em Moscou, exceto que agora estamos na América,” disse um atleta iugoslavo. ABC não ofereceu desculpas: “Nós estamos mostrando o que a audiência deseja ver,” explicou Frank Gifford, âncora da transmissão. Roone Alerdge, chefe de esportes da ABC, salientou que cada emissora estrangeira criou sua própria ênfase, escolhendo seus destaques do alimento internacional fornecido pela ABC e fornecendo seu próprio comentário. Ademais, se a audiência dos EUA foram uma medida do sucesso, um pouco de chauvinismo se adequava bem à audiência interna"
Esse modelo de transmissão norte-americana tem predominado também na televisão brasileira, ao menos naquelas de sinal aberto. Há um exagero em relação á atuação dos atletas brasileiros e o público nacional acaba sendo privado de assistir ao desempenho de outros grandes atletas de outras modalidades esportivas. Percebe-se, na transmissão da televisão brasileira, um enorme predomínio dos esportes coletivos, que são prática comum no país. Nos Jogos Pan-americanos de 1999 e 2003 o exagero nacionalista foi evidente, e uma conhecida jornalista, Barbara Gancia, escrevendo na Folha de São Paulo, questionava as transmissões perguntando onde estavam os norte-americanos e os cubanos, que dominavam o quadro de medalhas mas sequer apareciam na tela da TV.
Os soviéticos foram criticados pelo fato da arbitragem e dos oficiais que trabalharam nos Jogos de Moscou em 1980 terem beneficiado, em algumas provas, seus atletas. Entretanto, este tipo de política também foi adotada pelos norte-americanos, que foram descaradamente beneficiados nas competições de Boxe e também tiveram benefícios nas provas de Luta e de Ginástica.
No Boxe foram registrados os maiores escândalos. Os norte-americanos montaram um esquema chamado "Operação Ouro". Através dele, se um combate terminasse com vitória por 3 a 2 de um dos pugilistas, a decisão era submetida a um júri especial, que poderia reverter o resultado. Sul-coreanos, britânicos e africanos protestaram, mas de nada adiantou. Os Estados Unidos obtiveram nove vitórias e apenas 1 derrota nas finais, e ainda perderam em apenas uma semifinal, assegurando 11 medalhas em 12 categorias de peso. Os pugilistas norte-americanos mais favorecidos foram Steven McCrory, Jerry Page, Frank Tate e Henry Tillman, mas foram os casos de Tate e Tillman os mais escandalosos. Tate foi considerado o vencedor, por 5-0, na disputa contra Shawn O'Sullivan, na categoria até 71 kg , embora o canadense tenha sido claramente superior, inclusive levando-o a lona em duas ocasiões. Tillman foi escandalosamente beneficiado em seu combate contra o italiano Angelo Musone. Depois de perder por 3-2, acabou beneficiado pelo Júri, que reverteu o resultado para 5-0 a favor do norte-americano (KAISER, 2000). Wallechinsky (2004) informa que os jornais italianos noticiaram o resultado como alucinatório e escandaloso. Seria curioso imaginar como o esquema norte-americano iria operar diante dos fortíssimos pugilistas do Bloco Socialista, especialmente diante dos cubanos e dos soviéticos.
No final, os Estados Unidos, como já mencionamos anteriormente, obtiveram a primeira colocação no quadro de medalhas, com um total de 174 medalhas, incluindo 83 de ouro, 61 de prata e 30 de bronze. A segunda colocação, em total de medalhas, ficou com a Alemanha Ocidental, que chegou a 59 (17-19-23). Entretanto, quem chamou mais a atenção foi a Romênia, terceira colocada em número de medalhas, com 53, e segunda colocada em número de medalhas de ouro, com 20.
A Cerimônia de Encerramento é melhor resumida por Varela (1988, p.132): “Na brilhante e emotiva cerimônia de encerramento, Juan Antonio Samaranch se despediu dizendo: 'Convido a juventude de todo o mundo a Seul para os Jogos da XXIV Olimpíada, e a recriar a unidade olímpica e a amizade entre todos os povos'."
Varela (1988) compara os Jogos de 1972 a 1984, afirmando que: os de 1972 tiveram uma mentalidade puramente olímpica; os de 1976, uma visão municipalista; os de 1980 uma concepção estatal; e que em 1984 uma mentalidade em que a empresa privada levou toda a responsabilidade, a realização e o financiamento do evento.
Apesar das controvérsias e do chauvinismo norte-americano, os Jogos Olímpicos de Los Angeles acabaram se convertendo num grande sucesso. A forma como a cidade abrigou os Jogos foi criticada na época mas tornou-se modelo para os Jogos futuros, principalmente depois dos organizadores terem revelado a obtenção de um lucro de 223 milhões de dólares. O mais importante de tudo, porém, foi a constatação de que o Movimento Olímpico conseguira sobreviver a três gigantescos boicotes, ocorrências inéditas em sua história, e ainda encontrara uma forma de se transformar num evento de grande sucesso financeiro. A edição de 1988 também foi vitimada por boicotes, mas esta triste opção de protesto já estava perdendo sua força.
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