Os Jogos Olímpicos de 1972, os vigésimos da Olimpíada, foram sediados em Munique, Alemanha Ocidental. Apresentaram vários fatos característicos, com destaque para: a enorme e excelente organização; a tentativa alemã de apagar a imagem deixada por Hitler; as modernas instalações esportivas; a excelente tecnologia; o surgimento da primeira mascote oficial; a ameaça de boicote africano pela questão da Rodésia; o sangrento atentado terrorista que vitimou a delegação de Israel e comprometeu definitivamente o evento; a firmeza do COI em reafirmar os Jogos Olímpicos; o domínio dos países socialistas confirmando sua ação em bloco; os casos de doping.
A cidade de Munique foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 1972 na sessão do Comitê Olímpico Internacional realizada em 1966, em Roma (SHTEINBAKH, 1981). Na segunda rodada de votações obteve 31 votos contra 16 da canadense Montreal e 13 da espanhola Madrid. Na primeira rodada, foi eliminada a norte-americana Detroit (KAISER, 2000). Pela terceira vez na história os alemães receberam o direito de abrigar os Jogos Olímpicos. Na primeira ocasião, Berlim teve que desistir de organizar os Jogos de 1916 por causa da eclosão da primeira Guerra Mundial. Na segunda ocasião, organizaram um evento magnífico que, entretanto, acabou maculado pela máquina propagandística do sanguinário e racista partido nazista. Coincidentemente, 36 anos após os Jogos de 1936, os alemães abrigaram novamente os Jogos Olímpicos.
Os alemães-ocidentais pretendiam organizar os maiores Jogos Olímpicos de todos os tempos e não mediram esforços e nem recursos financeiros para cumprirem sua meta. As principais fontes de recursos vieram da venda dos direitos de transmissão televisiva do evento e da realização de loterias, sendo que o gasto total com os Jogos chegou a 1 bilhão de dólares. Avery Brundage ficou preocupado com a quantia de recursos envolvida na realização do evento pois este fato poderia inibir potenciais cidades candidatas a abrigarem as edições futuras (ARNOLD, 1983). Rodda (1976, p.81) entende conforme Brundage: “(...) A preparação da cidade foi única de luxo e esbanjamento, que teve um lado contra-produtivo desde que, com as notícias da conta final de 300 milhões de libras, outros recuaram da idéia de ser anfitrião”.
Os alemães-ocidentais pretendiam organizar os maiores Jogos Olímpicos de todos os tempos e não mediram esforços e nem recursos financeiros para cumprirem sua meta. As principais fontes de recursos vieram da venda dos direitos de transmissão televisiva do evento e da realização de loterias, sendo que o gasto total com os Jogos chegou a 1 bilhão de dólares. Avery Brundage ficou preocupado com a quantia de recursos envolvida na realização do evento pois este fato poderia inibir potenciais cidades candidatas a abrigarem as edições futuras (ARNOLD, 1983). Rodda (1976, p.81) entende conforme Brundage: “(...) A preparação da cidade foi única de luxo e esbanjamento, que teve um lado contra-produtivo desde que, com as notícias da conta final de 300 milhões de libras, outros recuaram da idéia de ser anfitrião”.
Os alemães souberam aproveitar o antigo aeroporto de Munique, já integrado urbanisticamente à cidade, para construir as instalações esportivas. O estádio olímpico foi revolucionário, possuindo uma cobertura de plástico que se ligava ao novo palácio de esportes e uma piscina, muito rápida e de alta tecnologia. A luxuosa vila olímpica, com capacidade para 12.000 pessoas, foi construída nas proximidades, assim como um centro de imprensa para abrigar cerca de 4.000 pessoas, possibilitando-lhes trabalhar de forma mais eficiente. A cidade também foi transformada para os Jogos, com a inauguração de um esplêndido metrô e a ampliação do aeroporto, e a organização ficou mais grandiosa com a presença das belas e eficazes estradas e vias alemãs. Todo o país se integrou ao projeto olímpico. O Comitê Organizador logrou uma funcionalidade absoluta, transportes rápidos e cômodos; a tecnologia eletrônica antecipou seus progressos e se criou um ambiente de paz e amizade entre os atletas. Os organizadores também criaram um departamento de grafismo que decorou a cidade com tonalidades suaves e amáveis. Desde as bandeiras até os uniformes dos funcionários, incluindo ainda os ônibus, metrôs e vitrines estavam todos combinados em suas tonalidades, tornando Munique um cenário ideal para representar uma sinfonia pacifista e fraternal (VARELA, 1988).
A tecnologia alemã também foi um dos destaques dos Jogos. Arnold (1983) afirma que os Jogos forneceram uma enorme contribuição para a indústria e a tecnologia dos alemães. A cronometragem e a fotografia simultânea das provas de corridas foram do mais alto padrão. Shteinbakh (1981) explica que todas as instalações esportivas para os Jogos Olímpicos estavam equipadas com meios de informação rápida, exemplificando com os marcadores, calculadoras eletrônicas, aparelhos de medição na base de raios laser e equipamento moderno de reprodução rápida para os boletins de imprensa. Nunca os Jogos haviam atingido tão elevado nível tecnológico. Shteinbakh (1981) ainda lembra que a televisão foi utilizada amplamente e permitiu que mais de um bilhão de pessoas, dos cinco continentes, assistissem às competições esportivas.
A tecnologia alemã também foi um dos destaques dos Jogos. Arnold (1983) afirma que os Jogos forneceram uma enorme contribuição para a indústria e a tecnologia dos alemães. A cronometragem e a fotografia simultânea das provas de corridas foram do mais alto padrão. Shteinbakh (1981) explica que todas as instalações esportivas para os Jogos Olímpicos estavam equipadas com meios de informação rápida, exemplificando com os marcadores, calculadoras eletrônicas, aparelhos de medição na base de raios laser e equipamento moderno de reprodução rápida para os boletins de imprensa. Nunca os Jogos haviam atingido tão elevado nível tecnológico. Shteinbakh (1981) ainda lembra que a televisão foi utilizada amplamente e permitiu que mais de um bilhão de pessoas, dos cinco continentes, assistissem às competições esportivas.
Munique também foi o marco inicial para a popularização das mascotes olímpicos, que passaram a ter uma importância fundamental na divulgação dos Jogos Olímpicos e a simbolizar cada edição. Assim, rapidamente, expõe Wallechinsky (2004, p.17): “Os Jogos de 1972 foram também os primeiros a terem uma mascote oficial: Waldi, o dachshund”.
Politicamente, apesar de o mundo estar passando pelos seus atribulados momentos, como a Guerra do Vietnã, o único problema que teve repercussão nos Jogos Olímpicos relacionou-se com a questão da participação da Rodésia, que não pôde participar dos Jogos por causa de uma ameaça de boicote por parte dos países africanos. Arnold (1983, p.171) explica melhor o incidente: "A principal controvérsia política antes dos Jogos, que foi ter um eco na tragédia posterior, centrou acerca do consentimento do COI em 1971 em permitir a participação da Rodésia, baseada no status da Rodésia como uma colônia britânica, que os rodésios haviam abandonado unilateralmente em 1965. As nações africanas concordaram com os rodésios competindo como sujeitos britânicos sob a bandeira colonial, e uma delegação de 46 atletas rodésios chegou devidamente a Munique. Entretanto, os Comitês Olímpicos Nacionais Africanos então anunciaram que os organizadores dos Jogos tinham falhado em justificar legalmente a nacionalidade dos rodésios, e que os mesmos estavam explorando sua participação para propósitos políticos. Trinta e duas nações africanas ameaçaram se retirarem se a Rodésia competisse, e o COI foi forçado a fazer uma reunião de emergência, que votou 36 a 31, com três abstenções, para rescindir sua prévia decisão. Na prática, independentemente dos méritos do caso, o COI tinha capitulado à pressão e Avery Brundage, em seus últimos poucos dias como Presidente, ficou furioso".
Os Jogos Olímpicos de 1972 foram oficialmente inaugurados no dia 26 de Agosto e encerrados no dia 11 de Setembro, um dia além do previsto, por causa dos problemas surgidos com o ataque terrorista contra a delegação israelense. Contaram com a participação de um total de 7.123 atletas de 121 países, incluindo 1.058 mulheres, que competiram em 195 provas distribuídas entre 24 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Wallechinsky (2004) lembra que foram estabelecidos recordes em todas as categorias, incluindo números de provas, atletas e países, porém se esquece de incluir na lista o recorde de participação feminina, que rompeu a barreira das 1.000 atletas, superando em quase 300 o recorde de 1968.
O programa de esportes novamente foi ampliado de forma significativa. Wallechinsky (2004, p.17) registra: “Arco e Flecha foi reintroduzido ao programa olímpico após uma ausência de 52 anos e o Handebol depois de uma ausência de 36 anos. Canoagem em corredeiras (ou slalom) foi incluída pela primeira vez...”. Wallechinsky (2004) ainda se esquece de informar o retorno definitivo do Judô ao programa olímpico. Além disso, alguns esportes como o Atletismo feminino, a Luta Livre e Greco-romana e o Levantamento de Peso tiveram seu número de provas ampliado, levando a considerações sobre o gigantismo dos Jogos. Entretanto, desde aqueles tempos, o número de provas cresceu amplamente, chegando a 301 em 2004, demonstrando a dificuldade existente em conter o crescimento do esporte.
As competições estiveram emocionantes e, conforme Wallechinsky (2004), pareciam estar cumprindo seu objetivo de celebrar a paz. Entretanto, na madrugada de 5 de Setembro, sombras se deslizaram sigilosamente pelos muros que delimitava a Vila Olímpica. Oito homens disfarçados de atletas, carregando armamentos em suas sacolas, penetraram na Vila e se dirigiram à Rua Connolly, onde se encontrava o alojamento de Israel, juntamente com os do Uruguai e Hong-Kong. Dois atletas acordaram com os ruídos dos terroristas. Iniciava-se um grande drama na história olímpica. O comando “Ikrit y Biraam” (nome de duas vilas árabes eliminadas por Israel) disparou contra os atletas israelenses, matando o treinador de luta Moshe Weinberg e ferindo mortalmente o levantador de peso Joseph Romano. Somente um israelense, Touviah Sokolovsky, conseguiu escapar. Os nove israelenses restantes foram capturados pelos terroristas. O Presidente do COI, Avery Brundage, foi informado do que se passava: terroristas pertencentes ao grupo ‘Setembro Negro” exigiam a liberação de cerca de 200 prisioneiros palestinos detidos em Israel e ameaçavam eliminar os reféns caso houvesse qualquer tentativa de se invadir a Vila Olímpica. O governo israelense, chefiado por Golda Meir, recusou a liberação dos prisioneiros palestinos e ainda pediu a suspensão dos Jogos Olímpicos, o que contrariava Brundage e o chanceler Willy Brandt. Os Jogos continuavam mas posteriormente foram suspensos por 24 horas. Adiamentos do prazo final para cumprimento das exigências terroristas foram conseguidos, enquanto se procurava uma solução diplomática. O alojamento israelense foi cercado pela polícia e pelo exército alemães, que posicionaram atiradores de elite. Por volta das 22 horas os terroristas caíram numa armadilha planejada pelos alemães, que os convenceram de que a melhor solução era eles e os reféns saírem da Vila Olímpica até um aeroporto onde um avião da Lufthansa os levaria ao Cairo, no Egito, de onde Israel estaria disposto a trocar os 200 prisioneiros. Três helicópteros conduziram os terroristas e os reféns até o aeroporto militar de Fürstenfeldbrück, a 30 quilômetros de Munique, onde uma armadilha estava preparada. Conforme chegaram à pista, todos os refletores do aeroporto militar foram projetados sobre os três helicópteros e quando os terroristas e os reféns começaram a sair, os atiradores de elite começaram a disparar contra os palestinos. Eles reagiram e passaram a atirar para todas as direções, atrapalhados pelas luzes dos refletores. Inclusive atingiram seus próprios reféns. O saldo da batalha foi trágico, com a morte de todos os nove atletas israelenses, de cinco dos oito terroristas, de um policial e de um piloto de um dos helicópteros. Foi a noite mais dramática vivida pelo Olimpismo. Na tarde seguinte, após uma cerimônia fúnebre no estádio olímpico, as competições foram retomadas quarta-feira dia 6. Porém, a confiança e a alegria haviam desaparecido das competições (VARELA, 1988). Infelizmente a cerimônia fúnebre foi muito criticada e a situação complicou quando o Presidente do COI, Avery Brundage, fez um discurso afirmando que os Jogos haviam sido vítimas de dois selvagens ataques, referindo-se também ao caso da Rodésia. Esta comparação com os terroristas árabes enfureceu os africanos e pareceu totalmente imprópria para os telespectadores do mundo (ARNOLD, 1983).
Shteinbakh (1981, p.193) acusa os israelenses de procurarem tirar proveito da tragédia: “O sionismo internacional aproveitou a perplexidade entre os organizadores dos Jogos para obter o máximo de vantagem propagandística e política com este incidente. Foi feita uma tentativa de frustrar os Jogos e transformá-los numa missa de réquiem geral. Mas os sionistas não conseguiram aproveitar-se desta situação”.
Felizmente os Jogos Olímpicos prosseguiram, mas a atmosfera de alegria foi manchada com o triste incidente dos israelenses. Ainda assim, as disputas entre Estados Unidos e União Soviética foram emocionantes. A União Soviética retomou a liderança no esporte olímpico ao conquistar um total de 99 medalhas, 50 de ouro, 27 de prata e 22 de bronze, enquanto os Estados Unidos ficaram com 94 medalhas, 33 de ouro, 31 de prata, 30 de bronze. A Alemanha Oriental, porém, foi o país que mais se destacou ao conquistar 66 medalhas, 20 de ouro, 23 de prata e 23 de bronze (KAISER, 2000). A evolução dos alemães-orientais, posteriormente, colocou fim à polarização esportiva entre EUA e URSS, pois eles entraram na briga pelas medalhas contra as duas superpotências. Ao contrário do que ocorria na política, em que soviéticos e norte-americanos davam as cartas, no campo esportivo as duas superpotências tiveram que dividir o poder com a pequena Alemanha Oriental.
Varela (1988, p.87) compara os Jogos da Grécia Antiga com a celebração de Munique: “O contraste entre a trégua olímpica que na Grécia antiga se observava durante os Jogos Olímpicos e a sangrenta jornada - também olímpica - de Munique marcou para sempre o que haviam podido ser os melhores Jogos Olímpicos da história”. Arnold (1983), por sua vez, entende que os gigantescos Jogos de Munique haviam deixado sua marca, mas lamenta que a violência e as mortes sejam os fatos mais lembrados. Foi uma grande injustiça com os Jogos Olímpicos de 1972, que registraram competições de excepcional nível. É impressionante a capacidade de destruição do ser humano: um trabalho de 6 anos foi ofuscado por uma ação terrorista de um único dia.
Se alguém pensa que o movimento olímpico enfrentou seus piores dias em Munique, engana-se. A partir de 1976 ele passou a enfrentar uma ameaça que não era tão violenta e sangrenta como as de 1968 e 1972, mas que quase o desintegrou: os boicotes.
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