quinta-feira, 2 de junho de 2011

1964 - TÓQUIO, JAPÃO


Os Jogos Olímpicos de 1964, os décimo oitavos da Olimpíada, foram sediados em Tóquio, Japão. Foram marcados por vários fatos, com destaque para: o resgate japonês após 20 anos; a primeira edição olímpica em território asiático; a propaganda japonesa tentando apagar a má imagem causada pela Guerra; o uso dos Jogos como plataforma econômica; a excelente organização; a crise causada por Indonésia e Coréia do Norte; a exclusão da África do Sul; a grande evolução das transmissões pela televisão e o uso de computadores; o simbolismo do revezamento da tocha olímpica; o entusiasmo dos espectadores japoneses; a maior participação de países, mas com menor número de atletas por causa dos custos de viagem; o grande sucesso atingido pelos Jogos.
Tóquio havia sido escolhida para organizar os Jogos Olímpicos de 1940 mas acabou desistindo do evento pelo fato do Japão ter se envolvido num conflito militar com a China na Segunda Guerra Mundial. Porém, recuperado da destruição causada pela guerra, o Japão novamente obteve o direito de organizar os Jogos Olímpicos em Tóquio. Fauria (1968, p.363) descreve o processo:
"Já em 1940, Tóquio deveria ter organizado os Jogos Olímpicos, que foram suspensos pela Segunda Guerra Mundial. Na 55ª sessão do Comitê Olímpico Internacional, celebrada em Munique, apresentaram sua candidatura unicamente 4 cidades: Bruxelas, Detroit, Tóquio e Viena. Na primeira rodada de escrutínio, Tóquio obteve a organização dos Jogos da XVIII Olimpíada por 34 votos, contra 10 de Detroit, 9 de Viena e 5 de Bruxelas. O olimpismo entrava por fim vitorioso na Ásia. Desta vez nenhuma guerra iria impedir a celebração dos Jogos Olímpicos no Japão".
Fauria (1968) se esquece de divulgar em que ano ocorreu a escolha de Tóquio, mas Arnold (1983) informa que ela se deu em 1959 e que os japoneses estavam determinados a mostrar que seu povo poderia ser um amigável anfitrião. Morgan (1976) dita que este também era o principal desafio dos japoneses, mostrando que eram humanos e tinham coração, mudando a imagem que aparentaram por causa da guerra. Giller (1984, p.151) segue o mesmo raciocínio: “Os japoneses descaradamente utilizaram as Olimpíadas de 1964 como uma grandiosa operação de relações públicas para finalmente limpar as manchas da Segunda Guerra Mundial”.
O Japão se tornou o primeiro país asiático a abrigar os Jogos Olímpicos. Morgan (1976) utilizou outras palavras ao dizer que foi o primeiro país do Extremo Oriente a receber os Jogos. Toomey e King (1988,p.39) compartilham as palavras de Morgan: “O Japão se tornou a primeira nação do Extremo Oriente a conduzir os Jogos”. Wallechinsky (2004) e Greenberg (1987) preferem afirmar que os Jogos de Tóquio foram os primeiros organizados na Ásia. Nomenclatura à parte, os Jogos Olímpicos serviram para abrir amigavelmente o misterioso Japão ao mundo. Varela (1988, p.74) assim expõe:
"Somente a força dos canhões norte-americanos havia permitido à civilização ocidental ingressar no misterioso e mágico mundo japonês. Seus silêncios, a discrição dos seus agentes, o equilíbrio de sua sociedade, eram tudo um mistério para o mundo ocidental. E o Japão, que tradicionalmente havia mantido sempre fechadas suas fronteiras, somente se abriu de forma pacífica e cordial mercê dos Jogos Olímpicos de 1964. A juventude de todo o mundo descobriu um país que, ainda então, guardava suas qualidades ancestrais e que desejava tanto integrar-se ao resto do planeta como este aspirava a descobrir e incorporar as virtudes daquela antiqüíssima civilização".
Os japoneses se empenharam em organizar os maiores Jogos Olímpicos da história até então. Os investimentos foram altíssimos e possibilitaram uma profunda transformação na cidade de Tóquio. Objetivavam mostrar ao mundo que o país estava recuperado da Guerra e que sua Economia era promissora. Eles não queriam perder a oportunidade de se reabilitarem diante de todos e mostrar aos jornalistas de quase 100 nações, todas potenciais clientes de sua indústria, que o Império do Sol Nascente não era apenas um país do quimono, de gueixas, de samurais, do riso e do saquê. A cidade de Tóquio havia passado por grandes tragédias, como um terremoto em 1923 e o bombardeio norte-americano na Segunda Guerra Mundial. Porém, na época dos Jogos, apresentava edifícios modernos, hotéis imponentes e funcionais, restaurantes novos, teatro imenso e grandes lojas. Mas não era o bastante, o prefeito da cidade, Ryotari Azuma, lançou um plano para reformar as estradas existentes, construir outras e edificar meia dúzia de hotéis, um deles reservado exclusivamente aos jornalistas, uma ferrovia ligando o aeroporto de Haneda ao centro de Tóquio e instalar outras sete linhas subterrâneas, entendidas como metrô (GHERARDUCCI, 1984). Shteinbakh (1981, p.165) descreve o processo de modificação do Japão: "O Conselho Municipal da capital japonesa e o Comitê de Organização das XVIII Olimpíadas fizeram muito para preparar a cidade para esta grande festa. Nas vésperas dos Jogos foi realizada uma reconstrução séria da cidade: muitos casebres velhos foram demolidos, foram construídas novas estradas, viadutos, pontes, instalações desportivas modernas e espaçosas, foram restaurados os velhos estádios, piscinas e salas. Por outras palavras, foi feito tudo para que os participantes dos Jogos e os numerosos convidados se sentissem o melhor possível"
Os Jogos Olímpicos têm o poder de mudar a fachada das cidades que recebem a honra de sediá-los. Por serem um evento de repercussão mundial, muitas vezes são utilizados pelos governos como forma de propaganda política. Outras vezes são utilizados como símbolo do progresso de determinado país. Foi o que o Japão fez em 1964 e a história se repete com a China, que objetiva simbolizar seu novo status de grande potência econômica mundial com a memorável celebração dos Jogos Olímpicos de 2008.
A Vila Olímpica era composta por cinco edifícios e foi estrategicamente construída de forma a permitir a fácil circulação dos atletas para os locais de competição, já que foram abrigados conforme sua modalidade esportiva (FAURIA, 1968). Wallechinsky (2004) lembra que foi na Vila Olímpica que se celebrou a cerimônia de casamento entre dois atletas búlgaros, uma saltadora de distância, Diana Yorgova, e um ginasta, Nikolai Prodanov. Varela (1988) lembra que os japoneses seguiram o exemplo italiano e dedicaram uma edificação aos jornalistas. Varela (1988, p.76) também descreve detalhadamente a Vila Olímpica: "A Vila Olímpica foi um exemplo da imaginação nipônica. Pequenos chalés de estilo japonês, com pequenos jardins rodeando cada pavilhão e, unindo-os, amplas ruas floridas. Para facilitar a circulação, uma frota de bicicletas podia ser utilizada livremente por atletas e visitantes, e estavam permanentemente à disposição do primeiro que as montasse, podendo abandoná-las onde quer que fosse, para poderem ser utilizadas livremente por quem precisasse delas. Uma forma de propriedade coletiva que permitia todas as interpretações sociológicas e filosóficas que se quisesse. Em todo o caso, o sistema funcionou perfeitamente. Um exemplo mais daquele interessantíssimo país. Um sonho do anarquismo mundial realizado com tanta discrição quanto eficácia".
O Japão gastou uma quantia de dinheiro jamais gasta anteriormente na história dos Jogos Olímpicos. Schaap (1967) informa que foram investidos 3 bilhões de dólares. King e Toomey (1988) falam em gastos de dois bilhões de dólares para abrigar os eventos olímpicos e hospedar os visitantes estrangeiros. Depois dos Jogos de Tóquio, os futuros anfitriões olímpicos se viram compelidos a realizar vultuosos investimentos para abrigar os Jogos Olímpicos. Porém, no processo, os países também foram aprendendo a explorar a grandiosidade do evento para incrementar seus setores turísticos e com isso, a longo prazo, tornar sua experiência olímpica um investimento rentável.
A organização dos Jogos Olímpicos no Japão contou com imenso apoio popular, o que contribuiu grandemente para o seu sucesso. Morgan (1976) expõe que os sorridentes japoneses pareceram espalhar um sentimento de felicidade em cada lugar e observa que Avery Brundage se encantou com o completo envolvimento da população, desde o mensageiro ao mais elevado executivo industrial, que adotaram os Jogos Olímpicos como um projeto pessoal e mudaram suas rotinas para agradar aos visitantes. Schaap (1967) explica que temas olímpicos dominaram todas as lojas e hotéis, bares Ginza divertiram os estrangeiros e o sistema de transporte facilitava a circulação. Fauria (1968, p. 363) traduz o espírito de união dos japoneses: “Como um só homem, todos os japoneses fizeram da Olimpíada uma empresa de onde se julgava a honra nacional, e trabalharam incansavelmente para lograr um triunfo completo”.
A tecnologia foi um dos pontos altos dos Jogos Olímpicos de 1964, principalmente em virtude da melhoria das transmissões televisivas e da utilização de computadores. A televisão aumentou sensivelmente sua importância dentro do movimento olímpico, e Arnold (1983) relata que os eventos esportivos foram assistidos por uma grande audiência, que recebeu as imagens através de um novo satélite, o Telstar. Segundo Carbonetto (1995), pela primeira vez um satélite artificial enviou diretamente imagem televisiva ao mundo. Independentemente da tecnologia dos satélites, a principal contribuição da televisão foi divulgar os Jogos Olímpicos e dar visibilidade e publicidade a esportes que anteriormente ficavam camuflados das populações mundiais, possibilitando-lhes aumentar o seu número de praticantes e o seu crescimento a nível mundial. Fauria (1968, p.364) é quem melhor discorre sobre o assunto: "Um feito transcendental conferiu a estes Jogos Olímpicos uma característica especial de importância histórica. E esta foi a retransmissão televisionada das principais competições, que chegavam à Europa poucas horas depois de disputadas as respectivas provas. A televisão levou os Jogos Olímpicos aos lugares de todo o mundo, mostrando-lhes a magnificência olímpica, seus grandes campeões, suas grandes platéias, seu labor de fraternidade universal. Esta circunstância indica um marco histórico no desenvolvimento do esporte no mundo, porque a partir de então vários hão sido os esportes que vêm conhecendo progressivamente horas melhores, com mais praticantes e mais competições em diferentes escalas. Tóquio e 1964 indicam um momento transcendental na história do esporte mundial".
Realmente a transmissão televisiva serviu para alavancar o esporte mundial e popularizar modalidades esportivas mais desconhecidas. Entretanto, no Brasil isso se tornou mais real quando surgiu o sistema de TV paga, pois a dependência dos canais abertos, que são muito limitados em termos de uma variada programação esportiva, sempre manteve os brasileiros alijados dos principais eventos do esporte mundial. Ainda hoje, em virtude da mentalidade que vigora nos meios de comunicações nacionais, as transmissões são muito precárias em termos de diversidade. Ao menos, o advento da Internet serviu para democratizar a informação, possibilitando aos interessados manter um contato direto com as federações internacionais de cada esporte.
A utilização de computadores também foi marcante. Carbonetto (1995) menciona que o computador utilizado nos Jogos de Tóquio era como uma calculadora eletrônica gigantesca e que 240 técnicos da IBM forneciam, continuamente, dados e estatísticas. Carbonetto (1995) também lembra que enormes ventiladores colocados próximos aos locais das cerimônias de premiação foram utilizados para não permitirem que as bandeiras dos países permanecessem frouxas por causa da ausência de vento.
Politicamente, entre 1960 e 1964, o mundo viveu um conturbado período, que felizmente não se estendeu aos Jogos Olímpicos. Os soviéticos colocaram cosmonautas circulando em torno do globo terrestre quando os Jogos se iniciaram e os chineses comemoraram o sucesso da explosão de uma bomba nuclear (SCHAAP, 1967). Arnold (1983) acrescenta o choque causado pelo homicídio do Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, em 1963, o início da guerra dos Estados Unidos com o Vietnã em 1964 e a construção do muro de Berlim em 1961, separando o Leste do Oeste. Gherarducci (1984) complementa a lista de fatos com o suicídio de Marilyn Monroe, o doloroso falecimento do Papa João XXIII e a surpreendente destituição de Nikita Kruschev da Presidência da União Soviética. Não se pode esquecer também a crise dos mísseis de 1962, quando a União Soviética pretendeu instalar mísseis em Cuba e foi fortemente rechaçada pelos Estados Unidos, que se sentiram ameaçados.
Entretanto, o incidente político que causou maior repercussão nos Jogos de 1964 envolveu a Indonésia, a Coréia do Norte, Israel, Taiwan e China. Em 1962, a Indonésia organizou os quartos Jogos Asiáticos, mas não permitiu a participação dos atletas de Taiwan e Israel. O Comitê Olímpico Internacional resolveu suspender os indonésios dos Jogos Olímpicos de 1964. Em 1963, os indonésios organizaram os Jogos da GANEFO, conhecidos como os Jogos das Novas Forças Emergentes, em Jacarta e persuadiram a China Comunista, não mais filiada ao Comitê Olímpico Internacional, a participar do evento. O Comitê Olímpico Internacional alertou os atletas a não participarem destes Jogos sob pena de não serem convidados para os Jogos Olímpicos de 1964. Os indonésios, que tiveram sua suspensão removida, e os norte-coreanos competiram na GANEFO e, ainda assim, foram a Tóquio, esperando que os japoneses influenciassem o COI a mudar sua decisão. Os japoneses optaram por não insistir com o COI para não comprometer seus Jogos Olímpicos. Mesmo assim, os norte-coreanos e os indonésios que não competiram na GANEFO foram aceitos nos Jogos, mas suas delegações optaram por retornar aos seus países. Tóquio acabou não se comprometendo (MORGAN, 1976). Arnold (1983) acredita que a retirada de Indonésia e Coréia do Norte acabou resolvendo uma situação que poderia ocasionar boicotes. Felizmente, a crise não se estendeu a outros países, e a ausência de Indonésia e Coréia do Norte não repercutiu nas competições esportivas, pois ambos os países não gozavam de expressão mundial. A única ausência sentida foi a da norte-coreana Dan Shin-geum, recordista mundial dos 400 metros rasos e candidata à medalha também na prova de 800 metros.
A África do Sul, por causa de suas políticas racistas, foi excluída do movimento olímpico e não pôde competir nos Jogos de 1964. Toomey e King (1988) expõem melhor o processo de exclusão da África do Sul: "O único embaraço político concerniu à África do Sul e sua política racista para a seleção da delegação. Em 1956, uma lei foi aprovada na África do Sul requerendo que atletas brancos e não-brancos fossem segregados com respeito à seleção da equipe. Em adição, equipes não racialmente misturadas foram permitidas deixar ou ingressar no país. Para competir contra uma equipe sul-africana, num sentido, implicava aceitação destas leis de segregação. Com um rapidamente crescente número de nações negras aderindo ao Movimento Olímpico, o COI foi pressionado a banir a África do Sul de competir em Tóquio ao invés de arriscar um boicote pelas nações do Terceiro Mundo".
Carbonetto (1995) lembra que as atitudes racistas da África do Sul feriam o artigo I da Carta Olímpica, que exprimia o mais elementar direito humano, o de uma vida digna e sem discriminação. Carbonetto (1995) cita, inclusive, que a equipe de Futebol do Santos teve que excluir 4 jogadores para poder excursionar pelo país, inclusive Pelé. Ao Comitê Olímpico Internacional não restou outra alternativa senão a exclusão do país do Movimento Olímpico. A África do Sul havia construído uma boa tradição esportiva nos anos anteriores e havia obtido expressivos resultados em esportes como Atletismo, Boxe, Natação e Ciclismo. Ficou ausente das arenas olímpicas por 28 anos, retornando apenas em 1992.
A Alemanha, pela terceira vez consecutiva, competiu com uma delegação conjunta formada por atletas dos lados ocidental e oriental, mas Gherarducci (1984) lembra que o Muro de Berlim já havia sido construído há três anos. Foi a última vez que este arranjo ocorreu, já que a partir de 1968, tanto a Alemanha Oriental quanto a Ocidental competiram com equipes distintas, fato que perdurou inclusive até 1988, última vez que competiram separadas. No quadro de medalhas, conforme Kluge (1998), a Alemanha garantiu o terceiro lugar em total de medalhas, somando 50, e o quarto lugar em número de medalhas de ouro, com um total de 10. Kaiser (2000) informa que, do total de medalhas, os alemães ocidentais obtiveram 31 (7 de ouro, 11 de prata e 13 de bronze) e os orientais 14 (3-8-3), sendo que as 5 (0-3-2) restantes foram obtidas por equipes conjuntas.
A tocha olímpica percorreu a mais longa viagem de sua história, até então, para chegar ao seu destino final, cumprindo um total de aproximadamente 26.000 quilômetros. Segundo o projeto inicial, deveria realizar grande parte do trajeto carregada por corredores mas, na prática, o plano se mostrou inviável e a tocha acabou, quase sempre, transportada de forma aérea. Foi transportada através de corrida, em revezamento, de Olímpia a Atenas e nos últimos 675 quilômetros em território japonês. Houve a participação de um total de 4.774 jovens, sendo que o último, encarregado de conduzir a tocha dentro do estádio e de acender a pira olímpica, foi Yoshinori Sakai, de 19 anos de idade, nascido no dia 06 de Agosto de 1945, uma hora após a explosão da bomba atômica em Hiroshima (CARBONETTO, 1995). Gherarducci (1984) acrescenta que a tocha foi transportada por um jato da Japan Air Lines e que efetuou escalas em Istambul, Beirute, Teerã, Lahore, Nova Déli, Bangkok, Kuala Lampur, Manila, Hong Kong e Taipé, chegando ao Japão em 9 de setembro, em Kagashima, de onde partiu para atravessar outras 40 regiões, em 30 dias, e chegar a Tóquio. Wallechinsky (2004) entende que a escolha de Sakai para acender a pira olímpica simbolizava a bem sucedida reconstrução do país após a Segunda Guerra Mundial. Wallechinsky (2004) ainda esclarece que Sakai nascera em Hiroshima, o que foi omitido por Carbonetto. Shteinbakh (1981) lembra que a bomba foi jogada pelos Estados Unidos e entende que Sakai simbolizava a vida que se erguera contra a morte atômica.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram oficialmente abertos no dia 10 de outubro e encerrados no dia 24 do mesmo mês. Contaram com a participação de 5.140 atletas de 93 países, incluindo 683 mulheres, que competiram num total 163 provas distribuídas dentre 21 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Arnold (1983) constata que o número de atletas foi levemente inferior ao dos Jogos de 1960 por causa dos custos de viagem, mas lembra que o número de nações representadas foi recorde. Morgan (1976) observa que, além do recorde de países, houve um recorde de provas disputadas. Shteinbakh (1981) anota as estréias de vários países que haviam se libertado de seus colonizadores: Argélia, Costa do Marfim, Camarões, Congo, República de Malgaxe, Mali, Níger, Senegal, Tanganhica e Zanzibar, Chade. Ainda acrescenta à sua lista mais países: República Popular da Mongólia, República Dominicana e Nepal. Como anteriormente informado, ausentaram-se a Indonésia e a Coréia do Norte, e foi excluída a África do Sul. Carbonetto (1995) é mais sucinto, mencionando apenas Argélia, Camarões, Madagascar, Níger, Tanzânia e Nepal.
Na Cerimônia de Abertura houve o contraste dos sons de tambores antigos com o barulho do jato que, utilizando fumaça, desenhava nos céus os cinco anéis olímpicos. Ainda no estádio se propagou o intenso perfume dos crisântemos, flor nacional japonesa. A bandeira olímpica foi hasteada num pendão que ficava a uma altura de 15,21 metros, que foi a marca atingida pelo japonês Mikio Oda, que deu ao Japão a primeira medalha olímpica de ouro de sua história, em 1928, na prova de salto triplo (CARBONETTO, 1995). Oito mil pombas foram liberadas como símbolo da paz., a pira olímpica foi acesa por Sakai e o Imperador Hirohito declarou os Jogos abertos (FAURIA, 1968).
O programa de esportes foi ampliado com a incorporação do Voleibol e do Judô aos Jogos Olímpicos. Mas foi o Boxe a modalidade que causou maior controvérsia, pois as polêmicas decisões dos jurados causaram a suspensão de dois boxeadores que agrediram os árbitros e o manifesto de um sul-coreano que se recusou a sair do ringue, permanecendo sentado por quase uma hora (ARNOLD, 1983). A incorporação do Judô serviu para agradar aos anfitriões japoneses, mas a modalidade provou-se emocionante e, depois de ausente nos Jogos de 1968, retornou definitivamente ao programa olímpico em 1972.
O público japonês compareceu às competições esportivas de forma entusiástica, inclusive enfrentando a intensa chuva que caiu durante os Jogos. Este foi um dos aspectos de maior destaque nos Jogos Olímpicos de 1964. Morgan (1976, p.76) assim descreve: "Um dos pontos de maior destaque dos Jogos foi a enorme platéia constantemente no estádio principal. Num dia escuro e úmido, a chuva caiu constantemente dos céus carregados conforme algumas das rodadas classificatórias dos eventos de campo estavam ocorrendo; se as arquibancadas estivessem vazias, ninguém se surpreenderia. Mas, ao invés, estiveram quase lotadas; foi único na história olímpica. Milhares de pessoas sentaram-se protegidas embaixo de seus guarda-chuvas, a chuva gotejando deles e de suas capas impermeáveis. Tanto foi o entusiasmo e a firmeza dos japoneses que eles ainda ficaram lá, na maioria das vezes ensopados, para os principais eventos da tarde. Aquele foi o espírito das Olimpíadas de 1964 em Tóquio".
Nas competições esportivas, a União Soviética somou 607,8 pontos contra 581,8 dos Estados Unidos. Os soviéticos conquistaram 96 medalhas, 30 de ouro, 31 de prata e 35 de bronze. Os norte-americanos ficaram com 90 medalhas, 36 de ouro, 26 de prata e 28 de bronze (SHTEINBAKH, 1981). Arnold (1983) ressalta que os norte-americanos conquistaram maior número de medalhas de ouro, enquanto os soviéticos obtiveram um maior número de medalhas no total. Na verdade não há uma classificação oficial das nações nos Jogos Olímpicos. Os quadros geralmente são divulgados pela imprensa e cada empresa jornalística adota um critério. A título de curiosidade, Schaap (1967) menciona que Kenneth Wilson, Presidente do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, foi irônico ao afirmar que o bom desempenho dos atletas norte-americanos causou a renúncia de Krushov.
Tecnicamente, os Jogos foram um grande sucesso esportivo, com a obtenção de diversos recordes olímpicos e mundiais (KELLY, 1972). Mas Carbonetto (1995) acredita que a eficiência japonesa teve grande influência ao fornecer perfeitas instalações e uma minuciosa organização, que permitiram aos atletas alcançarem seus melhores desempenhos. Segundo Fauria (1967), a inovação japonesa ao criar as semanas pré-olímpicas com o objetivo de ensaio para os Jogos e poder fazer ajustes técnicos, sanar falhas e defeitos, também foi um fator contribuinte.
A Cerimônia de Encerramento foi marcada pela grande festa dos participantes. Morgan (1976) percebe que a alegria se misturou com os sentimentos de tristeza pelo término dos Jogos, lembrando que tudo o que é bom, termina. Ainda assim houve espaço para a exuberância do esporte, com os atletas rompendo a rígida divisão por nações, improvisando danças. Foram os neozelandeses que iniciaram a atmosfera informal dançando ao redor do estádio (ARNOLD, 1983). Porém, houve um pequeno incidente quando um dos atletas neozelandeses parodiou um gesto japonês típico e tradicional ao passar diante da tribuna de honra em que estava o venerado Imperador Hirohito, que havia levado o Japão à tragédia da Segunda Guerra Mundial. Um jornalista italiano o definiu como “um criminoso de guerra sobre cuja consciência pesam milhões de mortes” (GHERARDUCCI, 1984).
Os Jogos Olímpicos de Tóquio foram um gigantesco sucesso. Apresentaram grande diversão e acabaram chamados de “Os Jogos Felizes” por um veterano repórter (MORGAN 1976). Os japoneses foram organizadores brilhantes em todos os aspectos e as competições atléticas apresentaram soberbas performances atléticas (TOOMEY & KING, 1988). Avery Brundage afirmou que os Jogos foram um sucesso fenomenal, um triunfo para o Japão e para o Movimento Olímpico (ARNOLD, 1983). Um referendo realizado pelo jornal francês L’Equipe, a respeito dos Jogos, constatou que os franceses apoiavam a celebração por ter dado uma contribuição moral para a causa da paz e ajudado os jovens de diversos países a se conhecerem melhor (SHTEINBAKH, 1981).

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