Os Jogos Olímpicos de 1960, os décimo-sétimos da Olimpíada, foram sediados em Roma, Itália. Caracterizaram-se por vários aspectos relevantes, dos quais se destacam: a escolha da cidade após uma espera de 52 anos; a excelente organização; a utilização da loteria do Futebol como parte do financiamento; o raro momento de paz vivido no mundo; a definitiva recuperação italiana depois da Segunda Guerra Mundial; a ênfase ao Turismo; a marcante presença da televisão; a utilização da arquitetura da Roma antiga como local de competição e sua conjugação com modernas instalações construídas para os Jogos, interagindo o antigo com o moderno; a cerimônia religiosa antes do início dos Jogos; a passividade entre União Soviética e Estados Unidos; a retirada da China e a participação da China Nacionalista como Formosa, sob protesto; a segunda participação da Alemanha com uma equipe conjunta com atletas do Leste e do Oeste; a última presença olímpica da África do Sul antes de sua exclusão por sua política de segregação racial; a crescente participação da África Negra; a chauvinista atitude da imprensa italiana; a morte do ciclista dinamarquês Knut Jensen; o intenso calor da cidade; as competições de madrugada; o uso da cronometragem eletrônica; a emocionante Cerimônia de Encerramento dos Jogos.
Roma havia sido escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 1908, entretanto a erupção do vulcão Vesúvio e a forte oposição interna por causa das rivalidades entre as cidades italianas provocaram sua desistência. Porém, em 1955, no Congresso Olímpico Internacional em Paris, a cidade foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 1960 ao derrotar a suíça Lausane por 35 a 24 na quarta e última rodada de votações. Outras cinco cidades haviam apresentado candidatura: Bruxelas, Budapeste, Detroit, México e Tóquio (FAURIA, 1968). Após um adiamento de 52 anos, finalmente Roma pôde sediar os Jogos. Wallechinsky (2004) fala que a espera foi de 54 anos, pois a cidade desistiu dos Jogos de 1908 exatamente em 1906. Mas Arnold (1983) insiste com os 52 anos, considerando a época em que os Jogos foram disputados. Gherarducci (1984) lembra que a cidade italiana já havia se candidatado quatro vezes na primeira metade do século passado, porém sem sucesso. Greenberg (1987) menciona que Roma era a cidade do Imperador Teodósio, justamente quem havia extinto os Jogos Olímpicos na Antigüidade, 1.567 anos antes, enquanto O'Connor (1976) informa que a cidade da qual se originou a ordem de extinção dos Jogos da Antigüidade fora a escolhida para abrigar a celebração moderna de 1960. Anteriormente a Roma, importantes capitais e cidades européias haviam sediado os Jogos, como Atenas (1896), Paris (1900 e 1924), Londres (1908 e 1948), Berlim (1936), Estocolmo (1912), Helsinque (1952) e Amsterdã (1928). Considerando-se a relevância de Roma na cultura da civilização ocidental, acreditamos que a cidade italiana não deveria ter esperado mais de 60 anos para sediar os Jogos. Infelizmente, questões políticas e econômicas acabaram postergando sua escolha, mas ainda assim os italianos souberam aproveitar a ocasião para organizarem um evento memorável.
A organização dos Jogos Olímpicos de 1960 foi impecável e, nas palavras de Arnold (1983), os italianos compensaram a longa espera apresentando majestosamente o evento. A Itália estava vivendo um período de crescimento econômico e desejou mostrar ao mundo que o problema do pós-guerra estava superado.
A arquitetura foi um dos pontos característicos dos Jogos de Roma. Os organizadores utilizaram os famosos monumentos da Roma antiga para realizarem algumas disputas esportivas e souberam mesclá-los com as modernas instalações construídas para os Jogos. Carbonetto (1995) relaciona os esportes e as antigas construções e locais utilizados: a Ginástica, nas Termas de Caracalla; a Luta, na Basílica de Massenzio; a maratona, com início no Campidoglio e chegada no Arco de Constantino, próxima do Coliseu, depois de passar pela Via Appia; a Vela, no Golfo de Napoli e a Canoagem e o Remo, no Lago de Albano. Wallechinsky (2004) acrescenta que até o Papa se tornou um espectador dos Jogos ao poder assistir às competições de Canoagem da janela de sua residência de verão. Gherarducci (1984) informa que as competições eqüestres ocorreram na Piazza di Sienna. O’Connor (1976, p.73) é quem melhor descreve a ligação entre o antigo e o moderno: "O novo e o velho nunca estiveram tão proximamente ligados no Olimpismo. A Luta teve lugar na Basílica de Massenzio, onde dois mil anos antes competições similares foram realizadas. Nas Termas de Caracalla a Ginástica foi realizada, daí ligando outro vale esportivo entre o antigo e o moderno. A maratona, que começou diante do Capitol, terminou pelo Arco de Constantino. Mas a Roma Moderna indelevelmente imprimiu sua imagem nos eventos com o Atletismo, a Natação e o Hóquei no Foro Itálico, criação de Mussolini, enquanto com o complexo esportivo de EUR, o magnífico Palácio de Esportes, para o Boxe, e o Velódromo, para o Ciclismo, foram exemplos da arquitetura esportiva criada especificamente para estes Jogos".
Realmente, a arquitetura foi um grande diferencial de Roma em relação aos demais anfitriões olímpicos. Uma pessoa completamente leiga a respeito da cultura italiana e da civilização ocidental não iria compreender como competições esportivas ocorreram em cenários tão antigos e em ruínas. Porém, os mais românticos e comprometidos com a História percebem a magia provocada pelas disputas em locais que marcaram a civilização mundial.
O Turismo ocupou um papel de destaque para o Comitê Organizador. Os italianos souberam aproveitar a ocasião para incentivar ainda mais o seu setor turístico. Vários livros propagandísticos, de grande luxo, foram editados em vários idiomas, mesclando elegantemente a circunstância olímpica com a atração turística. Além disso, reservaram dois dias de descanso no calendário dos Jogos para que os turistas pudessem visitar a cidade sem perder qualquer acontecimento esportivo importante. E os taxistas, para melhor atenderem ao público, assistiram a alguns cursos coletivos de línguas (FAURIA, 1968). Nas edições anteriores dos Jogos, os organizadores já haviam percebido o potencial turístico que o evento poderia proporcionar, mas foram os italianos quem realmente souberam aproveitar a ocasião. Os alemães, em 1936, receberam muito bem os turistas mas seus propósitos se direcionavam mais a vender a imagem de uma Alemanha forte do que a criar um ambiente de exploração econômica da atividade turística.
O Estádio Olímpico foi concebido para receber cerca de 100.000 pessoas. Um dos seus principais atributos era a existência de 66 acessos que permitiam esvaziá-lo em apenas 11 minutos. Entre a pista e o público havia uma escavação, um fosso, de 2 metros de comprimento por 1,90 metros de profundidade (FAURIA, 1968). Gherarducci (1984) informa que o estádio olímpico custou cerca de 3 bilhões e 400 milhões de liras.
A Vila Olímpica foi composta por 33 edifícios de cinco andares cada um, formando um total de 1.348 apartamentos (CARBONETTO, 1995). Gherarducci (1984) também relata que a Vila Olímpica era composta por 33 edifícios e 1.348 apartamentos, mas acrescenta que havia um total de 4.723 espaços úteis e 2.960 destinados aos serviços. Depois dos Jogos os apartamentos foram destinados a funcionários públicos.
O financiamento dos Jogos contou com apoio estatal, inclusive com a captação de recursos através da loteria do Futebol. Arnold (1983) confirma que muito do dinheiro utilizado veio desta forma de loteria, conhecida como Totocalcio, como já ocorrera com os Jogos de Inverno de Cortina d’Ampezzo, em 1956. Giller (1984) afirma que o dinheiro da loteria abasteceu as finanças do Comitê Organizador. Varela (1988, p.72) explica melhor a importância que os italianos deram aos Jogos: "A Itália foi o primeiro país que depois da Segunda Guerra Mundial soube organizar devidamente o esporte. Dotou de meios seu Comitê Olímpico Nacional. Este dispôs de dinheiro, de excelentes organizadores, de uma colaboração complementar e harmônica com suas autoridades civis; seu governo compreendeu imediatamente a força - e o impacto político - que os Jogos teriam, e Roma ofereceu aos Jogos o marco incomparável da cidade das 7 colinas".
Politicamente o mundo passava por relativa paz. Os principais fatos se relacionaram com: a China Comunista, que se retirou do movimento olímpico em 1958, e a Nacionalista, que passou a competir como “Formosa”; a África do Sul, que participou de seus últimos Jogos antes de ser excluída pelo COI por sua segregação racial; a Alemanha, que mais uma vez competiu com uma equipe conjunta; os Estados Unidos e a União Soviética, que gozavam de um raro período de entendimento, abalado por um incidente envolvendo um avião espião norte-americano; a independência de antigas colônias africanas que influenciaram positivamente a participação nos Jogos.
A China Comunista havia criado muita controvérsia durante os anos 50. Porém, os problemas foram resolvidos quando ela se retirou da condição de membro do COI, sendo que a China Nacionalista competiu sob o nome de Formosa (ARNOLD, 1983). Fauria (1968) informa que a retirada da China Comunista deu-se em 25 de Agosto de 1958. Segundo Gherarducci (1984) a China Nacionalista pretendia desfilar sob o nome de República da China ao invés de Taiwan mas, depois de muitas conversações, os atletas de Chiang Kai-shek desfilaram sem qualquer letreiro ou bandeira, porém com um cartaz no qual estava escrito “sob protesto”. Carbonetto (1995) complementa informando que a China Nacionalista desfilou com o cartaz ao invés da bandeira do COI. Infelizmente a China Comunista se retirou do movimento olímpico e se manteve ausente por mais 20 anos, retornando apenas nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1980. Perdeu uma grande oportunidade de desenvolver seu esporte através do intercâmbio internacional e de medir forças com as grandes potências mundiais. Seu retorno aos Jogos de Verão ainda foi adiado porque decidiu boicotar os Jogos Olímpicos de Moscou em 1980.
A questão da África do Sul e de sua política de segregação racial começou a incomodar o Comitê Olímpico Internacional à medida que este passou a sofrer maior pressão das Nações da África Negra que, conforme ganhavam a independência, passaram a ingressar no seu quadro. Ademais, a política de exclusão contrariava os próprios princípios do COI. Arnold (1983, p.122) mostra qual foi o futuro da África do Sul: “(...) Foi para serem os últimos Jogos para a África do Sul, cuja política do apartheid era contrária aos regulamentos do COI”. Gherarducci (1984) explica que a África do Sul foi inicialmente suspensa e posteriormente expulsa do movimento olímpico pelo COI. Retornou ao mundo olímpico apenas em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona.
A questão da Alemanha ainda não havia sido resolvida. Novamente, como em 1956, a Alemanha Ocidental e a Oriental competiram com uma equipe unificada. Arnold (1983, p.122) assim resume: “(...) Os alemães novamente enviaram uma equipe unificada do Leste e do Oeste”. A Alemanha Unificada ficou em terceiro lugar em número total de medalhas, somando 42 (12 de ouro, 19 de prata e 11 de bronze), superada por União Soviética e Estados Unidos. Em número de medalhas de ouro, também foi superada pela Itália, que chegou a 13 (KLUGE, 1998). Kaiser (2000) explica que das 42 medalhas alemãs, 23 (9-10-4) foram obtidas pelos ocidentais, 16 (2-9-5) pelos orientais e apenas 3 (1-0-2) por equipes formadas por atletas de ambos os lados. Ainda naquela época a Alemanha Ocidental era esportivamente superior à Oriental, mas a partir dos anos 70 os alemães orientais passaram a superar, por boa margem, os ocidentais.
Os Estados Unidos e a União Soviética passavam por um raro momento de paz. Conforme Schaap (1967), os atletas norte-americanos e soviéticos foram se conhecendo melhor depois dos Jogos de 1956, pois em 1958, por exemplo, uma equipe nacional de Atletismo dos Estados Unidos havia competido em Moscou e, no ano seguinte, foi a vez de uma equipe nacional soviética competir em solo norte-americano. Os dois encontros acabaram estimulando a amizade e o entendimento entre os dois países. Schaap (1967, p.287) expõe a postura soviética: “Os dirigentes soviéticos, geladamente desinteressados no passado, encorajaram a fraternização Leste-Oeste. 'Política é uma coisa, esportes outra'”, disse Constantin Andrianov, presidente do Comitê Olímpico Russo. “Nós somos esportistas”.
Entretanto, ocorreram incidentes entre União Soviética e Estados Unidos quando os soviéticos abateram um avião espião norte-americano U-2 e capturaram seu piloto a apenas 3 meses do início dos Jogos de Roma. O mundo pareceu balançar na beira do desastre. Talvez tenha sido esse reconhecimento de perigo o responsável pelo desenvolvimento de uma quantidade extraordinária de fraternização entre Leste e Oeste conforme os Jogos progrediam (JOHNSON, 1996). Apesar de toda a tensão que vigorou entre soviéticos e norte-americanos no período da Guerra Fria, eles apenas deixaram de se enfrentar nas arenas olímpicas nas edições de Verão que ocorreram em seus territórios, como em Moscou, em 1980, e em Los Angeles, em 1984.
No aspecto tecnológico, a transmissão televisiva foi o grande destaque dos Jogos de Roma, pois conseguiu atingir uma audiência mundial, antecipando a grande importância que esse meio de divulgação olímpica assumiria no futuro. Pela primeira vez a televisão cobriu completamente o programa de competições, sendo que a equipe móvel da RAI produziu cerca de 106 horas de transmissão, uma quantidade considerada inusitada levando-se em conta a época e o fato de haver apenas um canal televisivo na Itália (CARBONETTO, 1995). Coote (1980) informa que mais de 100 companhias televisivas estiveram presentes em Roma para mostrar os Jogos a uma enorme audiência mundial.
A introdução da cronometragem eletrônica nas provas de Remo e de Ciclismo foi outra novidade em Roma. Também esteve disponível no Atletismo e na Natação, mas as federações internacionais destes esportes não a haviam oficializado, utilizando-a apenas como recurso auxiliar (CARBONETTO, 1995). Ironicamente, foi na natação que ocorreu um polêmico incidente quando o australiano John Devitt, erroneamente, ficou com a medalha de ouro na prova de 100m, estilo livre, na Natação. Filmes da prova mostraram que a vitória foi do norte-americano Lance Larson, porém os resultados não foram alterados. A partir de então o cronômetro manual foi perdendo espaço para o eletrônico (COOTE, 1980).
A Itália é um país de grande religiosidade e em Roma se encontra o Vaticano, local que centraliza mundialmente a Religião Católica. Em 1960, pouco antes da Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos, celebrou-se um serviço religioso no qual o Papa João XXIII abençoou os participantes dos Jogos. O momento foi realmente especial dentro da história olímpica, pois foi justamente a Igreja Católica a responsável pela extinção dos Jogos Olímpicos na Antigüidade, por considerar a celebração grega pagã. Varela (1988, p.73) é quem melhor observa os fatos: "E como integração simbólica, faustuosa e significativa, foi a audiência que o Papa João XXIII concedeu, em plena Praça de São Pedro, a todo o mundo olímpico, representado por 150.000 pessoas, às quais supôs dirigir as palavras justas, oportunas e necessárias. Fazê-lo quinze séculos e meio depois que um imperador cristão, Constantino, em nome da Igreja, proibira os Jogos Olímpicos da antiga Grécia, encerrava um simbolismo que era mister reivindicar. Foi provavelmente uma das cerimônias mais ecumênicas que presidiu aquele Sumo Pontífice, mentor e protagonista essencial do Concílio Vaticano. Nunca anteriormente a juventude de 85 países se havia reunido ao redor do chefe de uma religião com o fervor e a comunidade de sentimentos - ainda que naquela ocasião fossem somente esportivos, mas com a divisa de paz, fraternidade e espírito amistoso presidindo-os - que vivemos naquela inolvidável tarde na grande Praça do Vaticano".
A Igreja Católica teve um papel decisivo na extinção dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, ocorrida em 393 D.C. Entretanto não se pode culpar inteiramente a Igreja Católica pelo ocorrido. Na verdade, com a Grécia sob domínio romano, os Jogos perderam toda a sua magnitude e as disputas adquiriram um caráter mais violento e sanguinário, afastando-se por completo de toda a espiritualidade grega. Logicamente não se ajustavam ao Cristianismo e acabaram extintos. Shteinbakh (1981) observa o quanto a história é complexa, já que um Papa abençoou os Jogos que a própria Igreja, em outra época, havia eliminado por causa de seu caráter pagão.
Os Jogos Olímpicos de Roma foram oficialmente inaugurados no dia 25 de Agosto e encerrados no dia 11 de Setembro. Contaram com a participação de 5.346 atletas de 83 países, incluindo 610 mulheres, que competiram em 150 provas distribuídas dentre 19 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Foram quebrados todos os recordes de participação, como total de atletas, mulheres e países. Shteinbakh (1981) anota a estréia dos seguintes países: Federação das Índias Ocidentais, Marrocos, São Marino, Sudão e Tunísia. Carbonetto (1995) destaca a forte participação da África Negra com Etiópia, Gana, Quênia, Nigéria, Libéria, Rodésia, Sudão e Uganda.
As competições esportivas foram de excelente nível, entretanto acabou ganhando destaque também o chauvinismo demonstrado pela imprensa italiana, que exagerava na documentação de seus atletas e se esquecia daqueles das outras nações. Fauria (1968) afirma que a imprensa italiana se mostrou inclinada a destacar tudo quanto era italiano, sem dar demasiada ressonância aos feitos dos atletas estrangeiros. Varela (1988) lamenta que o exagero da imprensa italiana em destacar a atuação de seus compatriotas tenha tirado um pouco do brilho dos Jogos. O exame dos livros olímpicos da Itália ainda hoje revela que a imprensa do país continua a enfatizar exageradamente os feitos dos atletas italianos. Similar política sempre foi adotada, salvas raras exceções, pelos norte-americanos.
Curiosamente, algumas disputas esportivas se prolongaram até a madrugada. No levantamento de peso foi comum as provas terminarem por volta das 2 horas da manhã. O’Connor (1976) afirma que o grande número de competidores inscritos foi a principal causa no atraso, sendo que num dos dias uma disputa só foi encerrada às 4:00 horas da madrugada.
A União Soviética superou os Estados Unidos por ampla margem nas disputas esportivas. Os soviéticos somaram 103 medalhas, 43 de ouro, enquanto os norte-americanos ficaram com apenas 71 medalhas, 34 de ouro. Novamente a União Soviética, como em 1956, derrotou os Estados Unidos. Arnold (1983) cogita ter havido uma relação direta entre o sucesso esportivo dos soviéticos e seu comportamento amistoso acima do usual. Diante de tamanha superioridade, os soviéticos não hesitaram em mostrar ao mundo que sua ideologia política era claramente superior a todas as outras (JOHNSON, 1996).
Apesar de todo o clima de festa que vigorou em Roma, um triste evento acabou sucedendo: a morte do ciclista dinamarquês Knut Jensen, que faleceu na prova de 100 km por equipes. O caso gerou violenta polêmica pois se afirmava que os atletas não deveriam competir sob o calor romano de Agosto. O jornal britânico, o Daily Mirror, escreveu que era brutal, vergonhoso e injusto colocar os atletas para competirem em similares condições. Porém, a autópsia posterior indicou que Jensen havia morrido em conseqüência de ter ingerido uma dose excessiva de um estimulante antes do início da prova (GHERARDUCCI, 1984). Greenberg (1987) também afirma que a morte foi diagnosticada como provocada pelo calor, e que posteriormente foi revelado que a verdadeira causa foi uma overdose de drogas. Mas Coote (1980) acrescenta que evidência médica sugeriu que o calor contribuiu para a morte do ciclista. Jensen foi o segundo atleta da história a ter falecido nos Jogos Olímpicos da Era Moderna enquanto competia. O primeiro havia sido o português Francisco Lázaro, morto durante a corrida de Maratona nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, na Suécia.
Aliás, o calor intenso perturbou os competidores de provas de longa distância e afastou o público das eliminatórias dos eventos que ocorriam mais cedo. Mesmo os romanos sentiram a cidade inconfortável (ARNOLD, 1983). Coote (1980) acredita que muitas delegações sofreram intensamente com o calor por não terem feito uma adequada aclimatação, chegando tarde a Roma e não conseguindo se acostumar com o calor e a temperatura da cidade.
Os negros africanos chamaram a atenção no Atletismo, principalmente depois que o etíope Abebe Bikila conquistou a medalha de ouro na prova de Maratona. A conquista representou a integração africana à condição de protagonista dos Jogos. Varela (1988) entende que a vitória de Bikila representou o despertar do continente africano.
Os Jogos de Roma foram um verdadeiro sucesso. Varela (1988, p.73) resume: “A organização esteve a grande altura. O protocolo, impecável. E as competições tiveram uma grande densidade emotiva e alta qualidade técnica”. Toomey e King (1988) acrescentam que o esporte, não a política, foi a essência dos Jogos. Gherarducci (1984) lembra que o Presidente do COI, Avery Brundage, afirmou que os Jogos de Roma iriam permanecer vivos na história do olimpismo como os mais bem organizados até então. Carbonetto (1995), por sua vez, acredita que a edição olímpica de 1960 foi a última com uma dimensão humana, sem o padrão do computador e do patrocinador, que caracterizaram os Jogos seguintes.
A Cerimônia de Encerramento foi o último espetáculo dos fantásticos Jogos Olímpicos de 1960. O’Connor (1976) a descreveu como um tributo à visão e ao poetismo dos latinos à medida que a chama olímpica ia sendo apagada e o público iluminava o estádio com as luzes das chamas dos seus jornais que queimavam como tochas. Shteinbakh (1981) relata a grande alegria que reinou na cerimônia de encerramento, com os atletas desfilando abraçados e saudando os espectadores, simbolizando a irmandade e a amizade entre os povos. Shteinbakh (1981, p.162) assim descreve o último ato do espetáculo que foram os Jogos Olímpicos de 1960: "Na luminária, a chama olímpica extinguia-se devagar, como se isso fosse contra a sua vontade. Apagaram-se os holofotes. Por um instante, a enorme taça de concreto do estádio mergulhou na escuridão. Mas de repente uma luz clara surgiu nestas trevas, depois mais uma, mais, e mais...Pouco tempo depois dezenas de milhares de pequenas tochas feitas neste mesmo instante ardiam sobre as tribunas. Eram os espectadores que queimavam seus jornais, programas e o papel que haviam trazido propositadamente para este fim. Parecia que este mar de luzes trêmulas e cintilantes tinha sido aceso pela chama olímpica. Os homens, movidos por um ímpeto único, levantaram-se dos seus lugares e ergueram bem alto sobre as cabeças as chamas avermelhadas".
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