sexta-feira, 30 de maio de 2008

1952 - HELSINQUE, FINLÂNDIA

Os Jogos Olímpicos de 1952, os décimo-quintos da Olimpíada, foram sediados em Helsinque, Finlândia. Apresentaram uma grande revolução no mundo olímpico, sendo caracterizados: pela consecução do sonho finlandês de finalmente poder sediar o evento após não poder realizar a edição de 1940 por causa da Guerra; pela primeira participação da União Soviética nos Jogos Olímpicos, dando início à Guerra Fria contra os Estados Unidos também no esporte; pela construção de duas Vilas Olímpicas para satisfazer os interesses dos países socialistas que desejaram ficar isolados; pela iniciativa dos finlandeses de acenderem duas piras olímpicas para homenagear seus ídolos do passado, demonstrando a intensidade do esporte na cultura do país; pelo retorno da Alemanha e do Japão ao cenário olímpico após as restrições de 1948; pela crescente universalização dos Jogos; pelo grande sucesso de público; pelo bom relacionamento entre os atletas soviéticos e norte-americanos, contrariando temores de que haveria desentendimentos; pela excepcional organização dos finlandeses; e pelo excelente clima de confraternização reinante nos Jogos, o que levou alguns observadores a sugerirem que a Escandinávia fosse sede permanente dos Jogos Olímpicos.
A cidade finlandesa de Helsinque havia sido escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 1940 após a desistência de Tóquio no final dos anos trinta, pois o Japão teve que concentrar seus esforços na Guerra que promovera contra a China e outros países asiáticos. Entretanto, após sofrer a invasão de tropas soviéticas, os finlandeses também tiveram que abandonar a organização do evento. Mas a Finlândia não desistiu do sonho de sediar os Jogos Olímpicos e, como lembra Arnold (1983), a cidade de Helsinque foi escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 1952 no dia 17 de Junho de 1947. Conforme Arnold (1983), os finlandeses ficaram entusiasmados com a escolha, e fizeram de tudo para que os Jogos fossem os melhores de todos os tempos. Kelly (1972) afirma que a Finlândia teve cinco anos para preparar a competição, o que lhe permitiu cuidar dos mínimos detalhes necessários à garantia do sucesso de cada esporte.
Entretanto, a Finlândia ainda estava se recuperando dos conflitos travados diante da União Soviética durante a invasão que sofreu na Segunda Guerra Mundial. As garantias dadas pela Finlândia eram a sólida tradição esportiva e uma organização espartana mas funcional (GHERARDUCCI, 1984). Cabe explicar que a Finlândia foi uma das grandes potências olímpicas durante os anos vinte e trinta, ficando sempre entre os maiores medalhistas, principalmente em virtude dos seus excepcionais desempenhos nas provas de Atletismo e de Luta, nos estilos Livre e Greco-romano, daí a referência à "sólida tradição esportiva". Fauria (1968, p.279) lamenta o fato da Finlândia não ter abrigado os Jogos Olímpicos no seu melhor período esportivo: "(...) Desgraçadamente, os Jogos não chegavam no momento mais florescente de seu poderio esportivo, ou seja, entre 1920 e 1940, em que os atletas finlandeses se cobriram de glória". Mas Fauria (1968) pondera dizendo que a Finlândia, apesar de não ser a potência de antes, ainda admirava o esporte e se propôs a ser o marco da maior manifestação esportiva organizada do mundo.
A cidade finlandesa de Helsinque não era conhecida internacionalmente. Contava com uma população de apenas 400 mil habitantes, sendo conhecida apenas pelos escandinavos. A Finlândia era envolvida por um grande mistério e vista como um pequeno país que obteve admiração por ter conseguido repelir a invasão soviética durante a Segunda Guerra Mundial (OLAN,1979). Wilson (1976) também compartilha da visão de Olan, afirmando que a maioria dos visitantes via a Finlândia como o país: que havia lutado bravamente contra os russos em 1939-1940; que apresentava dias longos e noites curtas durante o Verão; e que havia produzido Paavo Nurmi, talvez o maior atleta de todos os tempos.
Os finlandeses surpreenderam o mundo com uma organização excepcional. Os visitantes se depararam com soberbas instalações, com anfitriões que eram modelos de cortesia e eficiência, e com disputas excitantes e memoráveis (OLAN, 1979). Kelly (1972, p.114) expõe a eficiência da organização finlandesa, destacando a Vila Olímpica e o Estádio Olímpico: "A Vila Olímpica, construída especialmente para os Jogos, era formada de vários conjuntos de Edifícios com três e quatro pavimentos, possuindo cada prédio, no seu subsolo, um local destinado à sauna, muito utilizado nos países nórdicos, principalmente na Finlândia...O Estádio Olímpico, que fora construído para os Jogos Olímpicos marcados para 1940, foi ampliado em sua capacidade, para permitir a presença de 70.000 espectadores".
Os Jogos Olímpicos de Helsinque foram realizados num período de muita conturbação política no mundo. Carbonetto (1995) expõe as tensões do mundo na época, mencionando: a Guerra da Coréia, envolvendo Estados Unidos e China; a divisão do mundo entre Ocidente e Bloco Comunista; o terror da ameaça atômica; as perseguições de McCarthy nos Estados Unidos, que ficaram conhecidas como Macarthismo; e a continuação do stalinismo na União Soviética. Schaap (1967) informa que os Jogos ocorreram num período de grande contraste político, lembrando que somente em Berlim haviam sido realizados em clima parecido. Para Schaap (1967), os principais temas foram os confrontos Leste x Oeste, Comunismo x Capitalismo e Rússia x Estados Unidos, e que havia uma expectativa a respeito de quem dominaria as competições esportivas, Estados Unidos ou União Soviética.
Os conflitos da Segunda Guerra Mundial e os movimentos de independência de colônias asiáticas e africanas mudaram drasticamente a Geopolítica mundial e, logicamente, repercutiram na participação de países nos Jogos Olímpicos. Shteinbakh (1981) afirma que os novos participantes olímpicos em Helsinque foram: Bahamas, Gana, Guatemala, Hong-Kong, Israel, Indonésia, Nigéria, Antilhas Holandesas, Tailândia e Vietnã do Sul. Porém, foram mais importantes os retornos da Alemanha e do Japão, excluídos em 1948, a frustrada participação chinesa e a estréia da União Soviética. Fauria (1968) entende que os Jogos de Helsinque foram os mais universais da história, que reúnem mais fielmente o pensamento amplo e católico de Coubertin e que marcaram o retorno da Alemanha e do Japão e a reintegração da Rússia à grande competição. Já Gherarducci (1984) acredita que o evento de Helsinque foi o primeiro realmente universal, enfatizando o retorno da Alemanha e do Japão depois das restrições sofridas em 1948, embora lembre que havia opiniões defendendo a exclusão dos dois países. Gherarducci (1984) explica que a participação alemã foi defendida pelo general Robertson, alto comissário britânico na Alemanha, e a japonesa pelo general norte-americano MacArthur, comandante da tropa dos Estados Unidos no Pacífico.
A participação da Alemanha causou muitos problemas ao COI em virtude do país estar dividido. Schaap (1967) informa que a Alemanha Oriental teve seu reconhecimento rejeitado mas que a Alemanha Ocidental pôde competir. Arnold (1983) também cita o retorno alemão, porém lembra que a Alemanha Oriental não recebeu o reconhecimento olímpico. A questão da participação alemã ainda causaria muitas dúvidas no Comitê Olímpico Internacional e a solução provisória encontrada para as edições seguintes, de 1956 a 1964, foi a formação de uma delegação alemã conjunta, formada pelos atletas dos lados ocidental e oriental. Por incrível que possa parecer, a Alemanha foi politicamente dividida após a Segunda Guerra Mundial, mas participou como uma só nação durante três edições dos Jogos Olímpicos. Kelly (1972) erroneamente afirma que a participação conjunta se fez já em 1952, mas na verdade ela ocorreu a partir de 1956. Toomey e King (1988) confirmam que o convite para os Jogos de 1952 só foi feito à Alemanha Ocidental. Na edição XXV-6, de Dezembro de 1995 e Janeiro de 1996, da revista do Comitê Olímpico Internacional, Buschmann, Lennartz e Scherer, escrevendo sobre o centenário do Comitê Olímpico Alemão, esclarecem que, em 1952, os alemães competiram nos Jogos de Helsinque com duas equipes. Uma era formada por competidores da Alemanha Ocidental, ou República Federal Alemã. A outra era composta por competidores da Região do Saar, uma espécie de protetorado francês. Depois da Segunda Guerra Mundial a situação da Alemanha ainda estava indefinida. A porção ocidental ficou sob influência dos EUA e de seus aliados. A oriental ficou sob domínio soviético. Kluge (1998) informa que o Comitê Olímpico Internacional reconheceu a Região do Saar em 15 de Maio de 1950, numa sessão em Copenhagen, Dinamarca. Recuperando-se da guerra, a Alemanha Ocidental não conquistou uma única medalha de ouro, mas atingiu um total de 24 medalhas, 7 de prata e 17 de bronze. A região do Saar ficou longe do pódio. A fraca atuação alemã contrastou com o excelente desempenho obtido em 1936, quando a Alemanha liderou o quadro de medalhas com 33 de ouro e 89 no total.
A questão da participação da China também foi outro ponto de polêmicas pois, assim como a Alemanha, o país estava politicamente dividido. Gherarducci (1984) informa que a China popular de Mao Tsé-tung se comprometeu a enviar uma delegação de trinta e oito homens e 2 mulheres aos Jogos, não obstante o Comitê Olímpico Internacional ter aberto as portas à outra China, a nacionalista. Arnold (1983), porém, afirma que a partir do momento que a China Comunista foi aceita, a China nacionalista se retirou, mas a primeira acabou não aparecendo. Schaap (1967) fornece a mesma informação. Entretanto, para melhor esclarecimento, consultamos o texto publicado no livro "Colección China: Cultura Fisica y Sanidad", da editora Ediciones en Lenguas Extranjeras (1984, p. 122):
"Fundada a República Popular da China em 1949, realizou-se a reorganização do Comitê Olímpico Chinês, trasladando sua sede para Beijing. Em Dezembro de 1951, a Federação Nacional de Desportes da China e o membro do Comitê Olímpico Internacional, Dong Shouyi, enviaram, respectivamente, telegramas ao Comitê Olímpico Internacional, declarando que a China seguiria participando nos XV Jogos Olímpicos que teriam lugar em Helsinque, Finlândia, em 1952. Por travas interpostas por alguns dirigentes do Comitê Olímpico Internacional, este não tomou nenhuma decisão senão até dois dias antes da inauguração, na 47ª Conferencia, com 32 votos a favor e 20 contra, a respeito da participação dos desportistas chineses nos XV Jogos Olímpicos. Quando a delegação chinesa, composta por 40 desportistas de basquetebol, futebol e natação, chegou ao local da celebração, as partidas já estavam por terminar. Os desportistas chineses efetuaram a cerimônia de hasteamento da bandeira nacional da República Popular da China, tomaram parte na disputa de natação, realizaram amplos contatos amistosos com desportistas de diversos países e assistiram à Cerimônia de Encerramento".
Pelo exposto, fica claro que os chineses pretenderam participar com 40 atletas nos Jogos de Helsinque, mas em virtude do atraso do Comitê Olímpico Internacional em reconhecê-los, puderam participar apenas de uma prova de Natação. Consultando o calendário de provas é fácil entender o que ocorreu: a Sessão do Comitê Olímpico Internacional que reconheceu os atletas chineses foi realizada no dia 17 de Julho. Entretanto, as eliminatórias dos torneios de Basquetebol e de Futebol já se haviam iniciado em 14 de Julho, deixando aos chineses apenas a possibilidade de participarem das provas de Natação, que se iniciaram no dia 25 de Julho. O chinês Wu Chuan-yu competiu nas provas de 100 metros nos dias 26, no estilo livre, e 30, no estilo costas, do mês de Julho. Assim, foi o único atleta chinês a ter participado dos Jogos Olímpicos de 1952. O alemão Volker Kluge (1998) também menciona que a China teve um único competidor nos Jogos de Helsinque.
Apesar do retorno de Japão e Alemanha e da participação da China, foi a presença da União Soviética que causou maior impacto nos Jogos Olímpicos de Helsinque, estabelecendo o marco inicial do confronto entre soviéticos e norte-americanos no mundo olímpico. A partir de 1952 os Jogos Olímpicos passaram a ser mais um campo de guerra da disputa ideológica que travavam União Soviética e Estados Unidos, as duas superpotências mundiais que polarizaram o mundo. Conforme Johnson (1996, p.86): "A Guerra Fria encontrou um novo campo de batalha nos Jogos Olímpicos, e de súbito todos os atletas foram reduzidos ao status de fantoches políticos". Shteinbakh (1981, p.125) também atesta o impacto do ingresso olímpico soviético: "A incorporação dos desportistas soviéticos no movimento olímpico marcou o início de uma nova etapa na história dos Jogos. Em 1950, o Comitê de Organização das Olimpíadas de Helsinque enviou a Moscou o convite oficial de participar nos futuros Jogos. As organizações desportivas soviéticas aceitaram este convite. No dia 07 de Maio de 1951, o Comitê Olímpico Internacional reconheceu o Comitê Olímpico da União Soviética".
A participação da União Soviética nos Jogos Olímpicos foi muito trabalhada e estudada, pois os soviéticos tinham a necessidade de conhecer seu novo campo de ação e de cuidar para que não fossem humilhados pelos Estados Unidos e seus aliados capitalistas nas disputas esportivas. Anteriormente, os russos haviam competido separadamente nos Jogos de 1908 e de 1912, mas obtiveram pouquíssimos resultados significativos, somando apenas 8 medalhas. Coote (1980) aponta o caráter elitista do esporte russo na época, afirmando que na Era Pré-Bolchevique os participantes russos pertenciam ao mais alto estrato social. Entretanto, as nações do báltico, como Letônia, Estônia e Lituânia, participaram das edições dos Jogos Olímpicos das décadas de 20 e de 30, inclusive com a Estônia apresentando grandes resultados ao acumular 21 medalhas, mas não mais competiram depois de terem sido anexadas pela União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos poderiam ter participado dos Jogos Olímpicos de 1948, em Londres, já que o Comitê Olímpico Internacional havia autorizado sua participação em 1947, mas eles acharam que não estavam bem preparados para os Jogos e preferiram não se arriscarem a perder para os países capitalistas, o que poderia causar constrangimentos. Portanto, enviaram apenas treinadores e observadores. Na época, os delegados soviéticos analisaram os atletas dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, fizeram anotações e tiraram várias fotos, retornando para seu país, repletos de conhecimentos sobre técnicas e métodos de treinamentos, ansiosos para se prepararem para a estréia em 1952. Entre 1948 e 1952, o governo soviético investiu milhões de dólares num programa nacional de esportes destinado a formar campeões internacionais. Os soviéticos admitiram que pretendiam utilizar os Jogos Olímpicos como forma de propaganda. O Secretário Geral do Comitê Olímpico Soviético, Pyotr Sobolev, chegou a afirmar que os esportes seriam uma arma na luta pela paz e para a promoção da amizade entre os povos (SCHAAP, 1967). Arnold (1983) opina que o comportamento soviético de retornar aos Jogos em 1952 foi um indicador para as ações futuras dos comunistas e que as palavras de Sobolev, expressando as idéias da União Soviética, tinham a frieza de significar algo completamente diferente. Com relação aos observadores enviados a Londres em 1948, Olan (1979) ressalta que eles fizeram mais anotações do que muitos dos jornalistas presentes para documentar os Jogos.
Os soviéticos, inexperientes, não sabiam como se portar diante dos rituais olímpicos, o que acabou causando alguns constrangimentos. Inicialmente, não permitiram que a tocha olímpica passasse por seu território. Schaap (1967, p.249) traduz o problema gerado pela recusa russa: "...Os russos iniciaram o ano esportivo desprezando as Olimpíadas de Inverno em Oslo. Então, recusaram-se a permitir que a tocha olímpica fosse transportada pelo território soviético, uma decisão que adicionou milhares de milhas à viagem da Grécia à Finlândia...". Arnold (1983) entende que a atitude soviética foi deselegante. Entretanto, não podemos ignorar que tudo era novo para a União Soviética e que para seu governo ditatorial qualquer presença estrangeira em seu território era vista com desconfiança.
A recusa soviética e de alguns países socialistas em conviver com os demais atletas na Vila Olímpica causou um mal-estar ainda maior do que o provocado pela proibição relacionada à tocha olímpica. Os soviéticos, inicialmente, pretendiam realizar vôos diários para carregar seus atletas aos locais de competição diretamente da União Soviética. Logicamente, a idéia acabou sendo abandonada e a solução encontrada foi a construção de uma Vila Olímpica separada para os países socialistas do Leste Europeu. Schaap (1967, p.250) é quem melhor explica os fatos:

"(...) Finalmente, embora os soviéticos participassem dos Jogos de Verão, eles anunciaram que seus atletas não ficariam na Vila Olímpica em Helsinque, mas voariam diariamente de Leningrado. Eventualmente, os russos abandonaram seu esquema para vôos diários e, ao invés, estabeleceram uma separada Vila Olímpica da Cortina de Ferro em Otaniemi, próxima à base naval soviética de Porkkala, na Finlândia. Cercada por arame farpado, a Vila comunista abrigou a esquadra russa e as delegações das nações satélites. Os russos decoraram seus alojamentos com uma enorme bandeira sustentando um retrato de Stalin; os húngaros, para não serem sobrepujados, colocaram um retrato de Stalin ainda maior. Os soviéticos pareceram indiferentemente afastados; inicialmente, não permitiram visitantes na Vila da Cortina de Ferro. Mas uma vez que os russos se acomodaram e começaram a dividir as instalações finlandesas para treinamento com atletas do Ocidente, sua atitude começou a suavizar. Gradualmente, o campo comunista se abriu, e Leste e Oeste socializaram-se".
Os soviéticos foram adquirindo confiança e perceberam que o contato dos seus atletas com os do Ocidente não trazia maiores problemas. Wilson (1976) lembra que a Vila Comunista abrigou competidores da União Soviética, da Hungria, da Bulgária, da Polônia, da Romênia e da Tchecoslováquia. Wilson (1976) ainda entende que isto contrariou o espírito olímpico e sente dificuldades em compreender como o Comitê Olímpico Internacional, escrupuloso em muitos aspectos, permitiu-se aceitar o intolerável, mas logo pondera acreditando que sua atitude visava acomodar "uma ovelha que retornava ao rebanho". Carbonetto (1995) acredita que os países comunistas se fecharam em uma vila separada para melhor controlarem seus atletas e evitarem possíveis fugas, mas enfatiza que, após o embaraço inicial, os atletas soviéticos foram visitar a Vila Olímpica e tiveram sua visita retribuída pelos norte-americanos.
Diante da insegurança dos países comunistas, os organizadores finlandeses tiveram que abrigar as delegações em três locais diferentes: na Vila Comunista em Oltaniemi, já mencionada, que alojou conjuntamente os homens e as mulheres de boa parte dos países do leste europeu, localizada a cinco milhas de Helsinque; na Vila Olímpica em Käpylä, que abrigou os homens das demais nações, localizada a uma milha e meia do estádio olímpico, e cujos apartamentos posteriormente foram destinados ao público; e num colégio de treinamento de enfermeiras, que acomodou as mulheres, situado a meia milha do estádio olímpico (SOAR & TYLER, 1980). Gherarducci (1984) explica que a Vila Comunista em Otaniemi era composta por nove prédios de uma grande escola de engenharia e que a Vila Olímpica em Käpylä era formada por 500 habitações. Olan (1979) acrescenta que pela primeira vez na história os atletas foram separados em linhas políticas.
Os Jogos Olímpicos de 1952 foram oficialmente inaugurados no dia 19 de Julho e encerrados no dia 03 de Agosto, embora partidas de esportes coletivos tenham sido realizadas a partir do dia 14 de Julho (KLUGE, 1998). Um total de 4.925 atletas, representando 69 países, incluindo 518 mulheres, competiu em 149 provas distribuídas dentre 19 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Foram batidos todos os recordes de participação de países e de atletas, tanto no número total, homens e mulheres, como no de mulheres isoladamente.
A Cerimônia de Abertura foi um colírio para os amantes do esporte. A Finlândia era um país de grande tradição esportiva naquela época, tendo vivido seu maior período de glórias nas décadas anteriores, principalmente entre 1920 e 1936. Naturalmente, toda sua cultura esportiva repercutiu nos rituais dos Jogos Olímpicos. A passagem da tocha olímpica e o acendimento da pira olímpica homenagearam três ilustres figuras do esporte finlandês: Paavo Nurmi, ganhador de 12 medalhas olímpicas entre 1920 e 1928; Hannes Kolehmainen, o primeiro da famosa geração de corredores finlandeses e ganhador de 4 títulos olímpicos; e Mätti Järvinen, um dos maiores campeões da Finlândia na sua tradicional prova de lançamento de dardo e campeão olímpico em 1932. No Estádio foram dispostas duas piras olímpicas, uma na pista, que foi acesa por Nurmi, e outra no topo do estádio, acesa por Kolehmainen. A do topo do estádio media 72,71 metros de altura, distância que garantiu a medalha de ouro a Mätti Järvinen no lançamento de dardo nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, Estados Unidos. Carbonetto (1995) observa que, durante a passagem dos dois ícones do esporte finlandês, os atletas que estavam no gramado se aglomeraram nas bordas do campo para vê-los passar, e Olan (1979) acrescenta que a platéia também vibrava, e acredita que a manifestação era uma resposta à Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que havia excluído Nurmi dos Jogos de 1932, acusando-o de profissionalismo. Wallechisnky (2004) informa que Nurmi e Kolehmainen tinham, respectivamente, 55 e 62 anos de idade na época.
Houve um incidente menor, durante a Cerimônia de Abertura, quando uma pacifista alemã, vestindo um vestido branco e florido, entrou na pista, completou meia volta nela e conseguiu chegar ao palanque oficial e iniciar um discurso relacionado à paz. Entretanto, a polícia conseguiu removê-la do local e anunciou que ela era mentalmente perturbada. Um jornalista entusiasmado começou a lhe fazer muitas perguntas, levando os policiais a acreditar que se tratava de um comparsa dela. Ele também foi preso mas, posteriormente, foi liberado (WILSON, 1976). Soar e Tyler (1980) informam que a alemã era uma fanática entusiasta da paz, enquanto Gherarducci (1984) revela que seu nome era Barbara Rotraut Player e que ela desejava representar a pomba da paz e fazer um apelo ao entendimento mundial. Parece-nos que a atitude da alemã não revelava qualquer manifestação de loucura se considerarmos que seu país havia passado por pesados bombardeios há menos de uma década. Passando a adolescência durante um período conturbado, seu desejo de paz não poderia ser visto como loucura.
Iniciadas as competições esportivas, houve uma grande expectativa quanto ao confronto entre soviéticos e norte-americanos. A União Soviética havia melhorado tecnicamente em virtude de sua organização paramilitar com refinado e meticuloso estudo científico. Os Estados Unidos, por sua vez, grandes protagonistas das edições anteriores dos Jogos Olímpicos, possuíam grande possibilidade de selecionar talentos dentre os vários praticantes do país. Mas ao contrário dos soviéticos, os norte-americanos, diante do desinteresse do seu governo, precisaram contar com exibições de artistas para conseguir arrecadar recursos para custear a delegação (GHERARDUCCI, 1984). Porém, os soviéticos demonstraram grande arrogância ao colocarem um quadro comparativo com a contagem de pontos dos países participantes, acirrando a rivalidade com os Estados Unidos. Arnold (1983, p.107) é quem melhor expõe o desfecho desta iniciativa: "A propaganda não foi boa para os soviéticos. Eles construíram um enorme placar em sua vila olímpica para mostrar os totais de pontos não-oficiais das nações competidoras. Depois das disputas de Ginástica e de Luta, o placar mostrava-os com uma grande liderança, que permaneceu até o último dia. Quando os americanos foram com a última investida de medalhas, incluindo cinco de ouro no Boxe, os soviéticos rapidamente removeram todos os pontos do seu quadro. O placar final foi, Estados Unidos 614, União Soviética 553,5 pontos".
Os soviéticos pagaram caro por sua arrogância. Os Estados Unidos acumularam 76 medalhas, 40 de ouro, enquanto a União Soviética ficou com 71 medalhas, mas apenas 22 de ouro. Wilson (1976) informa que, durante a desmontagem do quadro pelos soviéticos, um representante de uma agência de notícias dos Estados Unidos conseguiu penetrar na Vila Comunista e publicou uma história cuja manchete foi "Russos pegos com os pontos para baixo". Apesar da rivalidade instigada pela imprensa, o convívio entre os atletas soviéticos e norte-americanos foi pacífico. Schaap (1967) conta o caso de um remador soviético que deu um emblema da foice e do martelo a um atleta norte-americano e o aconselhou a não o usar nos Estados Unidos para não correr o risco de ser colocado numa cadeira elétrica. Já um saltador norte-americano recusou um emblema da pomba da paz, oferecido por um oficial soviético, por não querer vestir "propaganda vermelha". Gherarducci (1984) observa que a participação da União Soviética preparou o caminho para o degelo nas relações entre soviéticos e norte-americanos e que somente o esporte consegue cumprir o objetivo da compreensão e da pacificação entre os povos, antecipando-se à política e à diplomacia. Em Helsinque, verificaram-se atletas soviéticos e norte-americanos se cumprimentando, abraçando-se e trocando lembranças. Olan (1979, p.203) expõe a observação feita pelo correspondente esportivo do New York Herald Tribune, Jesse Abramson: "Exceto pela segregação dos seus atletas, a Rússia mostrou-se muito bem. O comportamento dos seus atletas foi impecavelmente correto. Enviou uma equipe completa, aceitou suas derrotas graciosamente, não se envolveu em disputas ou o que nós chamaríamos de ruibarbo, não contestou decisões oficiais e demonstrou força geral nos Jogos, ficando atrás somente daquela dos Estados Unidos".
Apesar do bom comportamento dos soviéticos e dos norte-americanos, a ênfase que foi dada à sua rivalidade obscureceu o resto dos Jogos, levando Avery Brundage, eleito na ocasião novo Presidente do Comitê Olímpico Internacional, a afirmar que o espírito dos Jogos Olímpicos seria destruído se fossem transformados num gigante confronto entre as duas grandes nações ricas em talentos e recursos (SCHAAP, 1967). Apesar do alerta, Arnold (1983) mostra que Brundage ficou satisfeito com os Jogos ao constatar que a amizade internacional e o fair play estiveram próximos. Segundo Toomey e King (1988), Brundage reprimiu a União Soviética e os Estados Unidos por abuso político e nacionalista dos Jogos Olímpicos, que eram um evento que deveria superar as fronteiras nacionais e tratar os atletas como indivíduos.
Os Jogos de Helsinque foram um enorme sucesso, principalmente em virtude das fantásticas atuações esportivas e pela rivalidade entre União Soviética e Estados Unidos. Não houve controvérsias, apenas inigualáveis performances e personalidades, acompanhadas por entusiasmadas platéias, que resistiram ao péssimo clima. Conforme Shteinbakh (1981), o povo finlandês criou um ambiente caloroso e cordial, apesar do frio, da chuva e do vento. Fauria (1968) nota que a apreciação do esporte pelo povo finlandês contribuiu para o sucesso dos Jogos, pois ele se mostrou "olímpico" ao vibrar diante das vitórias de quaisquer atletas. Wallechisnky (2004, p.13) resume a impressão deixada pelos finlandeses: "No final, os Jogos de Helsinque foram tão bem organizados e os torcedores foram tão entusiásticos e agradecidos que alguns observadores sugeriram que as Olimpíadas fossem realizadas permanentemente na Escandinávia". Os povos do norte da Europa parecem destinados a sediar memoráveis Jogos Olímpicos, pois quarenta anos antes, em 1912, a sueca Estocolmo também havia fornecido à história olímpica uma excepcional celebração.

Um comentário:

Unknown disse...

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