Os Jogos Olímpicos de 1932, os décimos da Olimpíada, foram sediados em Los Angeles, Estados Unidos. Apresentaram vários aspectos importantes que acabaram por caracterizá-los, como: a segunda edição olímpica no Continente americano; o renascimento da economia norte-americana após a crise de 1929; a fraca participação estrangeira por causa dos altos custos de viagem, situação agravada pela crise econômica mundial; as costumeiras inovações na cultura dos Jogos, como a inclusão do pódio olímpico e a primeira Vila olímpica; o abrandamento da Lei Seca por questões culturais; a forte presença do público; a conjugação do mundo artístico com o olímpico; o espírito empreendedor norte-americano e o sucesso financeiro.
A cidade foi escolhida em 1923 para abrigar os Jogos. Conforme Carbonetto (1995), os Estados Unidos tiveram 9 anos para se prepararem para o evento e com recursos quase ilimitados, entretanto, a crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929 ocasionou grandes dificuldades e colocou em risco a realização dos Jogos Olímpicos. Carbonetto (1995), porém, afirma que a situação foi salva pelo programa New Deal, lançado pelo Presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, que conseguiu recuperar a economia norte-americana e com isso também a realização dos Jogos.
A crise mundial, porém, havia deixado profundos danos nas economias dos países em geral. Com isso, a participação estrangeira ficou comprometida, como indica Shteinbakh (1981, p.99):
37 países enviaram a Los Angeles 1.048 desportistas, isto é, o número de participantes foi, aproximadamente, duas vezes e meia inferior ao das Olimpíadas anteriores. Delegações de muitos países não conseguiram chegar devido às dificuldades materiais. A maioria dos Estados europeus limitou-se a enviar para os EUA apenas os desportistas em cujo êxito estavam certos. Pela primeira vez nos Jogos, participaram desportistas da China e da Colômbia
As dificuldades materiais foram a principal causa da ausência de vários atletas. Wallechinsky (2004) concorda que a Grande Depressão Econômica comprometeu a participação dos países estrangeiros, mas acrescenta também outro fator, a remota localização da cidade de Los Angeles. Wallechinsky (2004) também lembra que o número de participantes foi o menor desde 1904, quando os EUA também abrigaram o evento, naquela ocasião em Saint Louis. Fauria (1968, p.188) também culpa a distância: "Indubitavelmente, o amplo deslocamento que significava a viagem Europa-EUA, muito mais difícil do que hoje em dia, obrigou todos os países a reduzirem ao máximo suas delegações".
A situação poderia ter sido pior se o Comitê Organizador, chefiado por William Garland, não tivesse se comprometido a subsidiar parte das despesas dos participantes estrangeiros. Greenberg (1987) lembra que o subsídio englobava custos de transporte, hospedagem e alimentação. Giller (1984) esclarece que o subsídio em relação ao transporte foi obtido através da obtenção de reduzidos preços para as passagens de navio e trem. Toomey e King (1988) também informam que o Comitê Organizador obteve os preços mais baixos das empresas de navegação e transporte ferroviário e acrescentam que o surgimento de um conceito de Vila Olímpica facilitou o fornecimento de alimentação, hospedagem e transporte local aos participantes, tudo a um custo de apenas 2 dólares por dia.
Logicamente as competições esportivas foram afetadas pela reduzida presença dos atletas estrangeiros. Muitas provas contaram com a presença de pouquíssimos competidores e o torneio de Futebol teve que ser cancelado (WALLECHINSKY, 2004). Na Luta Greco-romana, por exemplo, em muitas categorias houve a presença de três a cinco competidores. Com relação ao Futebol, Shteinbakh (1981) afirma que o torneio foi cancelado não somente pela ausência dos europeus em virtude dos custos de viagem, mas também por causa da sua baixa popularidade nos Estados Unidos. O Hóquei sobre a grama sofreu o mesmo problema com a ausência européia, mas seu torneio foi disputado, embora com apenas três equipes e com um nível técnico comprometido devido à grande superioridade da tradicional Índia em relação aos fracos Estados Unidos e Japão. Em Los Angeles novamente voltaram a ser disputadas competições de Tiro ao Alvo, ainda que somente 2 provas tenham sido realizadas. Em 1928, por indefinições quanto ao profissionalismo, o esporte havia sido retirado do programa olímpico.
A questão do profissionalismo novamente ganhou destaque depois que dois fantásticos atletas da época, o francês Jules Ladoumègue e o finlandês Paavo Nurmi, foram proibidos de participar dos Jogos acusados de receberem dinheiro em competições esportivas. Infelizmente a medida privou Paavo Nurmi, ganhador de 12 medalhas olímpicas, 9 de ouro e 3 de prata, entre 1920 e 1928, de ampliar seus feitos. A definição de atletas profissionais e amadores sempre foi controversa dentro dos Jogos Olímpicos.
Los Angeles também foi o marco para várias inovações que se incorporaram ao ritual dos Jogos Olímpicos. Wallechinsky (2004) cita a introdução do pódio na cerimônia de premiação dos atletas ganhadores de medalhas e o hasteamento da bandeira do país vencedor de cada prova. Wallechinsky (2004) também observa que a edição de 1932 foi a primeira a durar 16 dias e que desde então cada edição dos Jogos tem durado de 15 a 18 dias. No período de 1900 a 1928, os Jogos se prolongaram por no mínimo 79 dias, e em algumas edições ultrapassou os 5 meses de duração. As inovações tecnológicas incluíram a introdução de cronometragem eletrônica oficial para os eventos de pista e a utilização da câmera de photo-finish na linha de chegada. Keith (1988) afirma que o sistema desenvolvido pelos norte-americanos permitia cronometrar até mesmo um centésimo de segundo.
Entretanto, a inovação mais importante ocorreu com o planejamento da primeira Vila Olímpica. Em 1924, em Paris, os franceses haviam abrigado os atletas em casinhas de madeira próximas ao estádio, mas ainda não havia o conceito do que realmente fosse uma Vila Olímpica. Greenberg (1987) explica que a mesma era composta por 550 pequenas casas e que abrigaram apenas os atletas masculinos, ficando as mulheres hospedadas no Chapman Park Hotel. Greenberg (1987) lembra que vigoraram rígidas regras impedindo as mulheres de ingressarem na Vila Olímpica. Giller (1984) informa que cada casinha possuía dois cômodos e que o Hotel que abrigou as mulheres era grande e luxuoso. Olan (1979) é mais específico ao explicar que cada uma das 550 unidades custou 165 dólares, era formada por dois quartos conectados a um banheiro e um armário (closet), e que depois dos jogos foram vendidas a companhias de construção civil e de automóveis pelo mesmo valor . Olan (1979) também afirma que na Vila havia biblioteca, salas de jantar, hospital, departamento de bombeiros e posto de correio. A inovação permitiu que se fornecesse alimentação e habitação aos atletas a um menor custo e possibilitou uma maior integração entre eles. Toomey e King (1988) concluem que a reunião de tantas pessoas de culturas diversas numa vila mundial foi única e que a concepção de Vila Olímpica provou-se popular e parte integral do Movimento Olímpico.
A aglutinação de povos de várias nacionalidades num evento mundial exige que se façam concessões em virtude dos costumes de cada cultura. Durante os Jogos de Los Angeles, justamente na época da Lei Seca, no interesse da boa vontade internacional, o governo norte-americano teve que suspender a proibição de bebidas alcoólicas para que os atletas estrangeiros, principalmente os franceses e os italianos, pudessem importar e beber vinho, produto indispensável na sua alimentação (WALLECHINSKY, 2004). Percebe-se como um país que abriga um evento internacional deve ser tolerante com os costumes de outros povos.
Os Jogos Olímpicos de Los Angeles foram inaugurados no dia 30 de Julho e encerrados em 14 de Agosto. Contaram com a participação de um total de 1408 atletas, incluindo 127 mulheres, representando 37 países que competiram em 116 provas distribuídas em 16 modalidades esportivas (KAISER, 2000). A Cerimônia de Abertura deslumbrou o mundo com a atuação de 300 músicos e 150 cantores, servindo de modelo para o que são atualmente as festas de abertura dos Jogos Olímpicos (VARELA, 1988).
O nível das competições esportivas foi elevado, apesar da fraca participação estrangeira. Porém, os norte-americanos compareceram de forma ostensiva aos Jogos, que se converteram num grande sucesso de público. O Estádio Olímpico, o famoso Coliseu, tinha uma arquitetura que lembrava os modelos da Antiguidade. A capacidade para 105 mil espectadores foi um recorde na época (SHTEINBAKH, 1981). Já na Cerimônia de Abertura os norte-americanos demonstraram sua empolgação com o evento, como lembra Wallechinsky (2004, p.10): "...As platéias bateram recordes também, começando com as 100.000 pessoas que compareceram à Cerimônia de Abertura". Fauria (1968) afirma que as 100 mil pessoas presentes no estádio representaram a maior cifra conseguida até então numa manifestação esportiva. Logicamente, tamanho sucesso de público, que se propagou até o final dos Jogos, propiciou aos organizadores uma forte arrecadação de recursos, gerando um lucro de um milhão de dólares. Wallechinsky (2004) afirma que os Jogos de 1932 foram os primeiros a gerarem um lucro substancial. Podemos perceber então o empreendedor espírito dos norte-americanos no seio olímpico, antecipando a grande virada ocorrida a partir dos Jogos de 1984, curiosamente também sediados em Los Angeles, que abriu os portões olímpicos aos gigantescos patrocinadores e transformaram os Jogos Olímpicos num negócio altamente rentável, mudando drasticamente concepções reinantes, como, por exemplo, ocorreu com a aceitação do profissionalismo.
O fato dos Jogos terem sido realizados em Los Angeles, na Califórnia do Sul, onde se localizava Hollywood, grande centro da indústria cinematográfica, que era o meio de comunicação que mais causava impacto na época, ajudou ainda mais a propagar o Movimento Olímpico. Varela (1988, p.40) tem a mesma opinião: "...os Jogos de Los Angeles em 1932 prestaram o indispensável verniz de espetacularidade e de imagem popular de que tanto os Jogos como o Olimpismo necessitavam". Varela (1988) ainda lembra que outros meios de comunicação, como o rádio e os periódicos, estavam adquirindo gigantesca importância, assim como o turismo. Aliás, Toomey e King (1988) informam que Los Angeles estava passando por um forte período de imigração, principalmente causado pela crise econômica que se abateu no leste e meio-oeste do país, levando a população da Grande Los Angeles a atingir cerca de 1,250 milhão de pessoas até o começo dos Jogos. A busca de oportunidades e o ótimo clima foram fatores determinantes. As imagens da California do Sul e o estilo de vida de Hollywood haviam sido propagados para o resto da nação e para o mundo pela indústria do cinema. Carbonetto (1995) cita a natural presença de grandes personalidades do cinema como Gary Cooper, Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks, Harold lloyd, Claudette Colbert e Jannette McDonald
Os Jogos de Los Angeles transcorreram sem qualquer grave incidente e alcançaram grandioso sucesso. Giller (1984) aponta como principal causa a energia, a indústria e iniciativa do Comitê Organizador. Fauria (1968) acrescenta ainda a desportividade dos Estados Unidos, o entusiasmo dos organizadores e o próprio prestígio alcançado pelos Jogos Olímpicos, que obrigavam os países a se prepararem cada vez com maior antecedência para o evento, como fatores de superação da depressão mundial nos aspectos econômico e político. Fauria (1968) ainda destaca o clima de amizade e civilismo presentes nos Jogos ao citar o fato do locutor do estádio, no dia da cerimônia de abertura, ter pedido ao público que ficasse em seus lugares por mais dez minutos para que os atletas pudessem retornar à Vila Olímpica sem interferências de tráfego. Toomey e King (1988) observam que o período de realização dos Jogos coincidiu com notícias positivas de Wall Street (Bolsa de Nova Iorque), embora a recuperação econômica dos EUA ainda fosse lenta. Varela (1988, p.40) vai mais adiante e profetiza o fortalecimento norte-americano: "...a reação econômica do país era um balão de oxigênio que o prepararia industrial, financeira e popularmente para o papel decisivo que interpretaria na Segunda Guerra Mundial nos anos quarenta".
Os Jogos Olímpicos de 1932 ofereceram excelentes inovações que foram acrescentadas às edições olímpicas posteriores e serviram para evidenciar os Estados Unidos como grande potência mundial. Marcaram um período de paz no mundo, apesar da grave crise econômica que ainda se abatia sobre as nações. Antecederam o conturbado período que estava por vir e que teve seu ponto culminante na sangrenta Segunda Guerra Mundial.
A cidade foi escolhida em 1923 para abrigar os Jogos. Conforme Carbonetto (1995), os Estados Unidos tiveram 9 anos para se prepararem para o evento e com recursos quase ilimitados, entretanto, a crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929 ocasionou grandes dificuldades e colocou em risco a realização dos Jogos Olímpicos. Carbonetto (1995), porém, afirma que a situação foi salva pelo programa New Deal, lançado pelo Presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, que conseguiu recuperar a economia norte-americana e com isso também a realização dos Jogos.
A crise mundial, porém, havia deixado profundos danos nas economias dos países em geral. Com isso, a participação estrangeira ficou comprometida, como indica Shteinbakh (1981, p.99):
37 países enviaram a Los Angeles 1.048 desportistas, isto é, o número de participantes foi, aproximadamente, duas vezes e meia inferior ao das Olimpíadas anteriores. Delegações de muitos países não conseguiram chegar devido às dificuldades materiais. A maioria dos Estados europeus limitou-se a enviar para os EUA apenas os desportistas em cujo êxito estavam certos. Pela primeira vez nos Jogos, participaram desportistas da China e da Colômbia
As dificuldades materiais foram a principal causa da ausência de vários atletas. Wallechinsky (2004) concorda que a Grande Depressão Econômica comprometeu a participação dos países estrangeiros, mas acrescenta também outro fator, a remota localização da cidade de Los Angeles. Wallechinsky (2004) também lembra que o número de participantes foi o menor desde 1904, quando os EUA também abrigaram o evento, naquela ocasião em Saint Louis. Fauria (1968, p.188) também culpa a distância: "Indubitavelmente, o amplo deslocamento que significava a viagem Europa-EUA, muito mais difícil do que hoje em dia, obrigou todos os países a reduzirem ao máximo suas delegações".
A situação poderia ter sido pior se o Comitê Organizador, chefiado por William Garland, não tivesse se comprometido a subsidiar parte das despesas dos participantes estrangeiros. Greenberg (1987) lembra que o subsídio englobava custos de transporte, hospedagem e alimentação. Giller (1984) esclarece que o subsídio em relação ao transporte foi obtido através da obtenção de reduzidos preços para as passagens de navio e trem. Toomey e King (1988) também informam que o Comitê Organizador obteve os preços mais baixos das empresas de navegação e transporte ferroviário e acrescentam que o surgimento de um conceito de Vila Olímpica facilitou o fornecimento de alimentação, hospedagem e transporte local aos participantes, tudo a um custo de apenas 2 dólares por dia.
Logicamente as competições esportivas foram afetadas pela reduzida presença dos atletas estrangeiros. Muitas provas contaram com a presença de pouquíssimos competidores e o torneio de Futebol teve que ser cancelado (WALLECHINSKY, 2004). Na Luta Greco-romana, por exemplo, em muitas categorias houve a presença de três a cinco competidores. Com relação ao Futebol, Shteinbakh (1981) afirma que o torneio foi cancelado não somente pela ausência dos europeus em virtude dos custos de viagem, mas também por causa da sua baixa popularidade nos Estados Unidos. O Hóquei sobre a grama sofreu o mesmo problema com a ausência européia, mas seu torneio foi disputado, embora com apenas três equipes e com um nível técnico comprometido devido à grande superioridade da tradicional Índia em relação aos fracos Estados Unidos e Japão. Em Los Angeles novamente voltaram a ser disputadas competições de Tiro ao Alvo, ainda que somente 2 provas tenham sido realizadas. Em 1928, por indefinições quanto ao profissionalismo, o esporte havia sido retirado do programa olímpico.
A questão do profissionalismo novamente ganhou destaque depois que dois fantásticos atletas da época, o francês Jules Ladoumègue e o finlandês Paavo Nurmi, foram proibidos de participar dos Jogos acusados de receberem dinheiro em competições esportivas. Infelizmente a medida privou Paavo Nurmi, ganhador de 12 medalhas olímpicas, 9 de ouro e 3 de prata, entre 1920 e 1928, de ampliar seus feitos. A definição de atletas profissionais e amadores sempre foi controversa dentro dos Jogos Olímpicos.
Los Angeles também foi o marco para várias inovações que se incorporaram ao ritual dos Jogos Olímpicos. Wallechinsky (2004) cita a introdução do pódio na cerimônia de premiação dos atletas ganhadores de medalhas e o hasteamento da bandeira do país vencedor de cada prova. Wallechinsky (2004) também observa que a edição de 1932 foi a primeira a durar 16 dias e que desde então cada edição dos Jogos tem durado de 15 a 18 dias. No período de 1900 a 1928, os Jogos se prolongaram por no mínimo 79 dias, e em algumas edições ultrapassou os 5 meses de duração. As inovações tecnológicas incluíram a introdução de cronometragem eletrônica oficial para os eventos de pista e a utilização da câmera de photo-finish na linha de chegada. Keith (1988) afirma que o sistema desenvolvido pelos norte-americanos permitia cronometrar até mesmo um centésimo de segundo.
Entretanto, a inovação mais importante ocorreu com o planejamento da primeira Vila Olímpica. Em 1924, em Paris, os franceses haviam abrigado os atletas em casinhas de madeira próximas ao estádio, mas ainda não havia o conceito do que realmente fosse uma Vila Olímpica. Greenberg (1987) explica que a mesma era composta por 550 pequenas casas e que abrigaram apenas os atletas masculinos, ficando as mulheres hospedadas no Chapman Park Hotel. Greenberg (1987) lembra que vigoraram rígidas regras impedindo as mulheres de ingressarem na Vila Olímpica. Giller (1984) informa que cada casinha possuía dois cômodos e que o Hotel que abrigou as mulheres era grande e luxuoso. Olan (1979) é mais específico ao explicar que cada uma das 550 unidades custou 165 dólares, era formada por dois quartos conectados a um banheiro e um armário (closet), e que depois dos jogos foram vendidas a companhias de construção civil e de automóveis pelo mesmo valor . Olan (1979) também afirma que na Vila havia biblioteca, salas de jantar, hospital, departamento de bombeiros e posto de correio. A inovação permitiu que se fornecesse alimentação e habitação aos atletas a um menor custo e possibilitou uma maior integração entre eles. Toomey e King (1988) concluem que a reunião de tantas pessoas de culturas diversas numa vila mundial foi única e que a concepção de Vila Olímpica provou-se popular e parte integral do Movimento Olímpico.
A aglutinação de povos de várias nacionalidades num evento mundial exige que se façam concessões em virtude dos costumes de cada cultura. Durante os Jogos de Los Angeles, justamente na época da Lei Seca, no interesse da boa vontade internacional, o governo norte-americano teve que suspender a proibição de bebidas alcoólicas para que os atletas estrangeiros, principalmente os franceses e os italianos, pudessem importar e beber vinho, produto indispensável na sua alimentação (WALLECHINSKY, 2004). Percebe-se como um país que abriga um evento internacional deve ser tolerante com os costumes de outros povos.
Os Jogos Olímpicos de Los Angeles foram inaugurados no dia 30 de Julho e encerrados em 14 de Agosto. Contaram com a participação de um total de 1408 atletas, incluindo 127 mulheres, representando 37 países que competiram em 116 provas distribuídas em 16 modalidades esportivas (KAISER, 2000). A Cerimônia de Abertura deslumbrou o mundo com a atuação de 300 músicos e 150 cantores, servindo de modelo para o que são atualmente as festas de abertura dos Jogos Olímpicos (VARELA, 1988).
O nível das competições esportivas foi elevado, apesar da fraca participação estrangeira. Porém, os norte-americanos compareceram de forma ostensiva aos Jogos, que se converteram num grande sucesso de público. O Estádio Olímpico, o famoso Coliseu, tinha uma arquitetura que lembrava os modelos da Antiguidade. A capacidade para 105 mil espectadores foi um recorde na época (SHTEINBAKH, 1981). Já na Cerimônia de Abertura os norte-americanos demonstraram sua empolgação com o evento, como lembra Wallechinsky (2004, p.10): "...As platéias bateram recordes também, começando com as 100.000 pessoas que compareceram à Cerimônia de Abertura". Fauria (1968) afirma que as 100 mil pessoas presentes no estádio representaram a maior cifra conseguida até então numa manifestação esportiva. Logicamente, tamanho sucesso de público, que se propagou até o final dos Jogos, propiciou aos organizadores uma forte arrecadação de recursos, gerando um lucro de um milhão de dólares. Wallechinsky (2004) afirma que os Jogos de 1932 foram os primeiros a gerarem um lucro substancial. Podemos perceber então o empreendedor espírito dos norte-americanos no seio olímpico, antecipando a grande virada ocorrida a partir dos Jogos de 1984, curiosamente também sediados em Los Angeles, que abriu os portões olímpicos aos gigantescos patrocinadores e transformaram os Jogos Olímpicos num negócio altamente rentável, mudando drasticamente concepções reinantes, como, por exemplo, ocorreu com a aceitação do profissionalismo.
O fato dos Jogos terem sido realizados em Los Angeles, na Califórnia do Sul, onde se localizava Hollywood, grande centro da indústria cinematográfica, que era o meio de comunicação que mais causava impacto na época, ajudou ainda mais a propagar o Movimento Olímpico. Varela (1988, p.40) tem a mesma opinião: "...os Jogos de Los Angeles em 1932 prestaram o indispensável verniz de espetacularidade e de imagem popular de que tanto os Jogos como o Olimpismo necessitavam". Varela (1988) ainda lembra que outros meios de comunicação, como o rádio e os periódicos, estavam adquirindo gigantesca importância, assim como o turismo. Aliás, Toomey e King (1988) informam que Los Angeles estava passando por um forte período de imigração, principalmente causado pela crise econômica que se abateu no leste e meio-oeste do país, levando a população da Grande Los Angeles a atingir cerca de 1,250 milhão de pessoas até o começo dos Jogos. A busca de oportunidades e o ótimo clima foram fatores determinantes. As imagens da California do Sul e o estilo de vida de Hollywood haviam sido propagados para o resto da nação e para o mundo pela indústria do cinema. Carbonetto (1995) cita a natural presença de grandes personalidades do cinema como Gary Cooper, Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks, Harold lloyd, Claudette Colbert e Jannette McDonald
Os Jogos de Los Angeles transcorreram sem qualquer grave incidente e alcançaram grandioso sucesso. Giller (1984) aponta como principal causa a energia, a indústria e iniciativa do Comitê Organizador. Fauria (1968) acrescenta ainda a desportividade dos Estados Unidos, o entusiasmo dos organizadores e o próprio prestígio alcançado pelos Jogos Olímpicos, que obrigavam os países a se prepararem cada vez com maior antecedência para o evento, como fatores de superação da depressão mundial nos aspectos econômico e político. Fauria (1968) ainda destaca o clima de amizade e civilismo presentes nos Jogos ao citar o fato do locutor do estádio, no dia da cerimônia de abertura, ter pedido ao público que ficasse em seus lugares por mais dez minutos para que os atletas pudessem retornar à Vila Olímpica sem interferências de tráfego. Toomey e King (1988) observam que o período de realização dos Jogos coincidiu com notícias positivas de Wall Street (Bolsa de Nova Iorque), embora a recuperação econômica dos EUA ainda fosse lenta. Varela (1988, p.40) vai mais adiante e profetiza o fortalecimento norte-americano: "...a reação econômica do país era um balão de oxigênio que o prepararia industrial, financeira e popularmente para o papel decisivo que interpretaria na Segunda Guerra Mundial nos anos quarenta".
Os Jogos Olímpicos de 1932 ofereceram excelentes inovações que foram acrescentadas às edições olímpicas posteriores e serviram para evidenciar os Estados Unidos como grande potência mundial. Marcaram um período de paz no mundo, apesar da grave crise econômica que ainda se abatia sobre as nações. Antecederam o conturbado período que estava por vir e que teve seu ponto culminante na sangrenta Segunda Guerra Mundial.