sábado, 31 de dezembro de 2011

2000 - SIDNEY - AUSTRÁLIA


Os Jogos Olímpicos de 2000, os vigésimos-sétimos da Olimpíada, foram sediados em Sydney, Austrália. Apresentaram aspectos que os caracterizaram, como: o acirrado processo de escolha da cidade; a homenagem prestada aos aborígenes na cerimônia de abertura; a excelente organização; o aumento significativo no número de provas; a maior participação feminina; a questão do doping; o enorme sucesso dos Jogos.
A cidade australiana de Sydney foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2000 depois de uma acirrada disputa com a favorita chinesa Beijing (Pequim). Nas três primeiras rodadas de votações, Beijing ficou à frente de Sydney, porém, na quarta e última rodada, depois da eliminação de todas as outras candidatas, Sydney conseguiu superar Beijing por apenas 2 votos, com um placar de 45 a 43. Pela segunda vez na história olímpica os Jogos Olímpicos desceram a linha do Equador e se dirigiram à Austrália. A primeira vez ocorrera em 1956, quando os Jogos foram sediados em Melbourne. A opção pela cidade australiana em detrimento da chinesa ocorreu numa época em que a China ainda não havia atingido a projeção que lhe favoreceu a concessão dos Jogos de 2008. Wallechinsky (1996, p.21), comentando a política nos Jogos Olímpicos, e mencionando o fato da Coréia do Sul ter se democratizado para receber os Jogos de 1988, comemora a preferência dada à Sydney em relação a Beijing:
"Se já houve um exemplo de como as Olimpíadas podem ter um efeito positivo no desenvolvimento político de um país, aconteceu em 1988, quando os Jogos foram programados para Seul. A Coréia do Sul era governada por uma ditadura que verdadeiramente abdicou em favor de eleições democráticas com o objetivo de satisfazer a opinião internacional antes das Olimpíadas. Talvez foi este sucesso que levou quase metade dos membros do COI a votarem em conceder as Olimpíadas de 2000 à China, que, numa época de crescente democracia, continua a proibir a liberdade de expressão e eleições livres, prende dissidentes, e mata manifestantes políticos. Felizmente, as cabeças mais frias prevaleceram e Sydney derrotou Beijing por 2 votos."
Os organizadores australianos foram perfeitos em todos os aspectos. As instalações esportivas foram estabelecidas em dois centros que são obras-primas arquitetônicas e são do mais alto nível. Contrariamente a Atlanta, elas foram construídas para servirem à população após os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos (KAISER, 2000). Realmente, em Atlanta, o pragmatismo norte-americano de construir e demolir, de substituir o velho pelo novo, acabou deixando sem muitas lembranças os Jogos do Centenário. Absurdamente, justamente a edição que comemorou os 100 anos de restabelecimento dos Jogos Olímpicos, não manteve boa parte das construções que serviram ao evento. Sydney, por outro lado, adotou um modelo que permitiu o aproveitamento posterior das instalações, evitando que se tornassem construções inúteis.
Politicamente, o mundo estava conturbado: direitistas no poder na Áustria; a Rússia em conflito com os separatistas tchetchenos; terrorismo do ETA na Espanha; guerra civil no Sri-Lanka; e os desentendimentos entre israelenses e palestinos; mas também houve entendimentos entre Coréia do Sul e Coréia do Norte; e de Israel com o Líbano, com o primeiro retirando suas tropas militares do território do segundo (LIVRO DO ANO, 2001). Os Jogos ocorreram num mundo cheio de problemas, mas ainda assim toda a família olímpica compareceu, com seus 200 membros (KAISER, 2000). A ausência de boicotes continuou, felizmente, a vigorar nos Jogos Olímpicos, depois do instável período vivido entre 1976 e 1988. O fato do mundo não estar ideologicamente dividido facilitou o entendimento entre os países, que não mais recorreram aos boicotes para se manifestarem. Ainda assim, os conflitos armados prosseguiram, mas com uma característica mais regional, com ações internas de rebeldes e separatistas nos respectivos países.
Os Jogos Olímpicos de Sydney foram oficialmente inaugurados no dia 15 de Setembro e encerrados no dia 01 de Outubro de 2000, embora partidas de Futebol tenham sido disputadas a partir do dia 13. Os Jogos contaram com a participação de 10.469 atletas de 200 países, incluindo 4.069 mulheres (WALLECHINSKY, 2004), que competiram num total de 300 provas distribuídas dentre 36 modalidades esportivas (KAISER, 2000). Foram estabelecidos recordes de participação de atletas, de mulheres e de países. Além disso, o número de provas alcançou as três centenas, para desespero do Comitê Olímpico Internacional, que desejava reduzir o gigantismo do evento.
As mulheres, como acima afirmamos, aumentaram sua participação olímpica percentualmente, continuando o acelerado processo iniciado a partir da edição de 1976. Conforme Wallechinsky (2004), as mulheres representaram 34,1% do total de participantes quatro anos antes em Atlanta. Em Sydney, sua participação chegou a 38,5%.
O programa de esportes foi ampliado, alcançando um total de 300 competições em 36 tipos de esportes, com 29 decisões de medalhas a mais do que em 1996. Foram excluídas apenas 6 provas do antigo programa, na luta e no levantamento de peso masculino, enquanto foram introduzidas outras 35. Triatlo, Ginástica de Trampolim e Taekwondo tornaram-se esportes olímpicos, enquanto as mulheres passaram a competir também no Levantamento de Peso, no Pentatlo Moderno e no Pólo Aquático. As modificações feitas no programa visaram a garantir uma maior participação feminina (KAISER, 2000). Convém lembrar que os homens, em Jogos Olímpicos, começaram a competir no levantamento de peso já em 1896, no pentatlo moderno em 1912 e no pólo aquático a partir de 1900. É fácil constatar o quanto se demorou, em muitas modalidades esportivas, para se tratar as mulheres de uma forma mais igualitária. Nos esportes citados, elas demoraram mais de 80 anos para serem admitidas.
A Cerimônia de Abertura, segundo Rebière (2000), foi emocionante, principalmente no momento em que, sob uma cascata de água, Cathy Freeman, uma aborígine, acendeu a pira olímpica, a chama da reconciliação. Os primeiros habitantes da Austrália, os aborígines, bem como a natureza, o espaço e o oceano australianos também foram homenageados, num espetáculo grandioso que incluiu 12.500 figurantes, aplaudidos por cerca de 110.000 pessoas. Kaiser (2000) entende que a presença de Freeman serviu para homenagear os aborígines, que foram oprimidos pelos australianos através dos séculos. Conforme informa Jean-Paul Rey (2000), outras cinco atletas australiana, além de Freeman, foram homenageadas: Rechelle Hawkes, do hóquei sobre a grama, Betty Cuthbert e Raelene Boyle do Atletismo, Dawn Fraser e Shane Gould da Natação. Estas atletas simbolizavam as estrelas esportivas do passado e do presente australiano.
Durante a Cerimônia de Abertura, a Parada das Nações também proporcionou momentos de muita emoção, como o desfile conjunto, sob uma mesma bandeira, das delegações da Coréia do Norte e da Coréia do Sul. Rebière (2000) lembra que a iniciativa foi inédita e simbolizou a ação internacional do Presidente Samaranch, pela última vez à frente do COI. Rebière (2000) ainda cita que outras atrações foram a primeira equipe de Ruanda, uma delegação multi-étnica da Bósnia Herzegóvina e a presença de quatro integrantes do Timor Leste, que desfilaram sob a bandeira olímpica. Kaiser (2000), comentando a questão coreana, lembra que muitas vezes o esporte se sai melhor do que a política, e acrescenta que os representantes do Timor Leste competiram sob a designação "atletas olímpicos individuais". A delegação da Bósnia-Herzegóvina, que Rebière chamou de multi-étnica, foi composta por mulçumanos, croatas e sérvios. E também se registrou a primeira participação olímpica de Eritréia, Palau e Estados Federados da Micronésia (LIVRO DO ANO, 2001).
O juramento olímpico, pela primeira vez na história, fez menção às palavras "sem doping e drogas". Mas em Sydney a questão do doping não foi resolvida, pelo contrário, aumentou. Durante e antes dos Jogos, nos testes de controle, foram registrados 66 casos através dos estritos controles e os atletas passaram a ficar preocupados com a possibilidade de banimento (KAISER, 2000). Wallechinsky esclarece que foram nove os competidores pegos nos Jogos, sendo que seis deles tiveram que devolver suas medalhas. O caso mais surpreendente foi o da ginasta romena Andreea Raducan, que venceu a competição geral individual mas acabou desclassificada porque o médico de sua equipe lhe dera um medicamento que continha uma substância proibida. Outro caso lamentável foi o da búlgara Izabela Dragneva, que havia se tornado a primeira campeã olímpica da história do Levantamento de Peso, mas que acabou desclassificada pelo uso da substância furosemide. Os demais eliminados foram os búlgaros Ivan Ivanov e Sevdalin Mintchev, o armênio Ashot Danielyan, todos do levantamento de peso, e o alemão Alexander Leipold, campeão na luta livre, categoria até 76 kg, pego pelo uso de nandrolona. Em livros posteriores aos Jogos, encontra-se, erroneamente, o nome de Leipold como campeão. Na verdade, a medalha de ouro foi para o norte-americano Brandon Slay.
As competições esportivas foram marcadas pelo recorde de 80 nações conquistando medalhas (WALLECHINSKY, 2004). Estados Unidos, Rússia e China foram os países que ficaram com as três primeiras colocações no quadro geral de medalhas. Os Estados Unidos mantiveram a primeira colocação, com um total de 97 medalhas, 40 de ouro, 24 de prata e 33 de bronze. A Rússia somou 88 medalhas, 32 de ouro, enquanto a China alcançou um total de 59 medalhas, sendo 28 de ouro. A anfitriã Austrália ficou com 58 medalhas, 16 de ouro, à frente da unificada Alemanha, quinta colocada com 56 medalhas, 13 de ouro (KAISER, 2000).
Os Jogos Olímpicos de 2000 foram um grande sucesso e apagaram as lamentáveis lembranças dos Jogos de Atlanta. Jean Paul-Rey (2000, p.154) analisa o encerramento do evento e seu significado:
"Domingo 1º de Outubro, a cortina tomba sobre os 27º Jogos Olímpicos. Sydney oferece uma mágica cerimônia de encerramento e uma inimaginável queima de fogos de artifícios aos atletas, aos 110.000 mil espectadores no estádio e aos milhões de telespectadores. Estes últimos Jogos do milênio não são apenas os mais belos como declara diplomaticamente Juan-Antonio Samaranch, mas eles restauraram uma melhor imagem olímpica após os fracassos de Atlanta: sem atentado, uma organização perfeita, superbas provas, heróis carismáticos".
Paul-Rey (2000) apenas lamenta a ocorrência de vários casos de doping. Looney (2000), por sua vez, acredita que os Jogos de Sydney serviram para intimidar as cidades que posteriormente iriam abrigar a grande festa. Rendell (2004) enfatiza a importância dos Jogos de Sydney para o movimento olímpico: "(...) os Jogos foram perfeitamente organizados, e restauraram a confiança de um movimento olímpico abalado pela organização pobre e tendência mercenária de Atlanta, pela crescente preocupação a respeito do doping, e pelo escândalo de corrupção cercando a atribuição dos Jogos de Inverno de 2002 à Cidade de Salt Lake. Sydney foi uma brisa de ar fresco de que o esporte desesperadamente necessitava. Foi como se as águas de suas magnificentes enseadas tivessem resgatando, purificando energias. Colocada mais prosaicamente, a Austrália, cuja população contém a mais larga proporção de pessoas praticantes de esportes do que qualquer país na Terra, uma nação em que o esporte é uma forma de religião, foi uma aposta segura para um movimento em desesperada necessidade de boas notícias. Sydney forneceu-a em abundância".
Os Jogos Olímpicos de Sydney, os últimos do Século 20, foram memoráveis em todos os sentidos e não registraram qualquer grande incidente. Questões mais amplas como manifestações políticas e boicotes haviam, felizmente, abandonado o Movimento Olímpico, que passou a viver um raro período de paz. Kaiser (2000) lembra que as palavras de Samaranch na Cerimônia de Encerramento dos Jogos, chamando-os de os mais belos desde 1896, foram as mais apropriadas, pois na cidade australiana foram celebrados os melhores e mais bonitos Jogos que a história olímpica havia experimentado. A edição de Sydney, a mais grandiosa da história, serviu para suavizar o caminho dos Jogos Olímpicos em seu retorno a Atenas, quatro anos depois.

2000 - ATLETISMO - Masculino


Quadro de medalhas



Total
Ouro
Prata
Bronze
NP
1. EUA
12
5
4
3
8
2. QUE
6
2
3
1
4
3. ETI
5
3
-
2
3
4. CUB
5
2
2
1
5
5. RUS
5
1
-
4
5
6. POL
3
3
-
-
3
7. RUN
3
1
2
-
3
8. ALG
3
-
1
2
3
8. MAR
3
-
1
2
3
10. ALE
2
1
1
-
2
10. RTC
2
1
1
-
2
12. MEX
2
-
1
1
2
12. TRI
2
-
1
1
2
14. AFS
2
-
-
2
2
14. JAM
2
-
-
2
2
16. EST
1
1
-
-
1
16. FIN
1
1
-
-
1
16. GRE
1
1
-
-
1
16. LIT
1
1
-
-
1
20. ASD
1
-
1
-
1
20. AUS
1
-
1
-
1
20. BRA
1
-
1
-
1
20. DIN
1
-
1
-
1
20. ITA
1
-
1
-
1
20. LET
1
-
1
-
1
20. NGR
1
-
1
-
1
27. BAR
1
-
-
1
1
27. BIE
1
-
-
1
1
27. UCR
1
-
-
1
1
Total
71
23
24
24
24




100m
EUA - 9.87
Maurice Greene
TRI - 9.99
Ato Boldon
BAR - 10.04
Obadele Thompson
200m
GRE - 20.09
Konstantinos Kenteris
RUN - 20.14
Darren Campbell
TRI - 20.20
Ato Boldon
400m
EUA - 43.84
Michael Johnson
EUA - 44.40
Alvin Harrison
JAM - 44.70
Gregory Haughton
800m
ALE - 1:45.08
Nils Schumann 
DIN - 1:45.14
Wilson Kipketer
AGL - 1:45.16
Aissa Djabir Said-Guerni
1500m
QUE - 3:32.07
Noah Ngeny
MAR - 3:32.32
Hicham El Guerrouj
QUE - 3:32.44
Bernard Lagat 
5000m
ETI - 13:35.49
Wolde Million
AGL - 13:36.20
Ali Saidi-Sief
MAR - 13:36.47
Brahim Lahlafi
10000m
ETI - 27:18.20
Haile Gebreselassie
QUE - 27:18.29
Paul Tergat
ETI - 27:19.75
Assefa Mezgebu
Maratona
ETI - 2:10:11 
Abera Gezahgne 
QUE - 2:10:31
Eric Wainaina
ETI - 2:11:10
Tola Tesfaye
110m com barreiras
CUB - 13.00
Anier García
EUA - 13.16
Terrence Trammell
EUA - 13.22
Mark Crear
400m com barreiras
EUA - 47.50
Angelo Taylor
ASD - 47.53
Hadi Souan Somayli
AFS - 47.81
Llewellyn Herbert  
3000m steeplechase
QUE - 8:21.43
Reuben Kosgei
QUE - 8:21.77
Wilson Boit Kipketer
MAR - 8:22.15
Ali Ezzine
4x100m, revezamento
EUA - 37.61
Jonathan Drummond
Bernard Williams III
Brian Lewis
Maurice Greene
BRA - 37.90
Vicente Lima
Édson Ribeiro
André Silva
Claudinei da Silva
CUB - 38.04
José Angel Cesar
Luis Alberto Pérez
Ivan García
Freddy Mayola
4x400m, revezamento
-
NIG - 2:58.68
Clement Chukwu
Jude Monye
Sunday Bada
Enefiok Udo-Obong
Nduka Awazie*
Fidelis Gadzama*
JAM - 2:58.78
Michael Blackwood
Gregory Haughton
Christopher Williams
Danny McFarlene
Michael McDonald*
Sanjay Ayre*
20 km, marcha
POL - 1:18:59
Robert Korzeniowski
MEX - 1:19:03
Noe Hernandez 
RUS - 1:19:27
Vladimir Andreyev
50 km, marcha
POL - 3:42:22
Robert Korzeniowski
LET - 3:43:40
Aigars Fadejevs
MEX - 3:44:36
Joel Sanchez
Salto em altura
RUS - 2.35
Sergey Klyugin
CUB - 2.32
Javier Sotomayor
AGL - 2.32
Abderrahmane Hammad 
Salto com vara
EUA - 5.90
Nick Hysong
EUA - 5.90
Lawrence Johnson
RUS - 5.90
Maksim Tarassov
Salto em distância
CUB - 8.55
Ivan Pedroso
AUS - 8.49
Jai Taurima
UCR - 8.31
Roman Shurenko
Salto triplo
RUN - 17.71
Jonathan Edwards
CUB - 17.47
Yoel García
RUS - 17.46
Denis Kapustin
Arremesso de peso
FIN - 21.29
Arsi Harju
EUA - 21.21
Adam Nelson
EUA - 21.20
John Godina
Lançamento de disco
LIT - 69.30
Virgilijus Alekna 
ALE - 68.50
Lars Riedel
AFS - 68.19
Frantz Krüger
Lançamento de martelo
POL - 80.02
Szymon Ziolkowski
ITA - 79.64
Nicola Vizzoni
BIE - 79.17
Igor Astapkovitch
Lançamento de dardo
RTC - 90.17
Jan Zelezny
RUN - 89.85
Steve Backley
RUS - 88.67
Sergey Makarov
Decatlo
EST - 8641
Erki Nool 
RTC - 8606
Roman Sebrle
EUA - 8595
Chris Huffins